quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Desafios e conquistas para uma educação inclusiva

"Um dos grandes objetivos da educação infantil é fazer com que a criança seja mais autônoma na sala de aula. Adquirir autonomia é interiorizar regras da vida social para que se possa conduzir sem incomodar o restante do grupo. E essa adequação social é condição sine qua non « sem a qual não há» para que seja integrada" (José Salomão Schwartzman, 1999).

Encarada por muitos como um estado de incapacidade, a deficiência mental (em especial a Síndrome de Down) está, aos poucos, sendo explicada por educadores e especialistas, que demonstram o contrário do popularmente dito.

Um exemplo disso são os estudos de José Salomão Schwartzman, brasileiro especialista em Neuropediatra. Segundo ele, "o fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou demonstrar conduta imatura em determinada idade, comparativamente a outras com idêntica condição genética, não significa impedimento para adquiri-la mais tarde".

Apesar da constatação científica e dos reforços para tal explicação, a disseminação destes estudos entre o grande público ainda é muito incipiente. E na grande maioria das vezes a falta de conhecimento adequado da doença resulta na geração de preconceito e discriminação, que podem ser verificadas com a dificuldade de inserção dos portadores de necessidades especiais nas escolas regulares.

"O maior obstáculo para a inclusão dos nossos filhos na sociedade é o preconceito. As pessoas não entendem o que é essa necessidade e acabam discriminando", comenta Elza Silva Batista, mãe de Jeriane Maria, de 12 anos – portadora de deficiência mental.

Mesmo com a criação do Programa de Educação Inclusiva, desenvolvido pela secretaria de Educação Especial do governo federal, a inclusão de pessoas com deficiência mental ainda se configura como um problema grave e que precisa ser superado. Poucas escolas regulares que aceitam os portadores de deficiência; ausência de um sistema adequado às suas necessidades e preparo de professores; escassez de recursos e até mesmo a resistência familiar são alguns dos desafios enfrentados para a inclusão social dos portadores da deficiência mental na Bahia.

Dificuldades marcam a inserção na educação regular

O direito à educação é premissa fundamental para o desenvolvimento de um país. No entanto, muitos são os obstáculos enfrentados por portadores de deficiência mental no Brasil, em especial a Síndrome de Down, na busca de uma educação que reconheça e potencialize suas habilidades.

"A criança com necessidades especiais apresenta muitas debilidades e limitações, portanto o trabalho pedagógico deve primordialmente respeitar o ritmo da criança e propiciar-lhe um estímulo adequado para o desenvolvimento de suas habilidades e competências, de acordo com as necessidades específicas de cada criança". Esta observação é feita por Luciara Regina Piauí de Oliveira, terapeuta ocupacional que desenvolve trabalho de acompanhamento de crianças com a síndrome.

Na opinião de Eduardo Barbosa, presidente da Federação Nacional das Apaes, é preciso levar a educação para os indivíduos, de acordo com suas diferenças, potencializando e valorizando as inteligências múltiplas. "Antigamente, a escola trabalhava apenas com um tipo de inteligência – que podia ser matemática ou lingüística. E muitas vezes as pessoas com deficiência, principalmente intelectual, tinham dificuldade de acompanhar estas exigências curriculares.

Hoje as escolas terão que se adaptar, desenvolvendo as inteligências múltiplas, ou seja, habilidades diferenciadas de acordo com o potencial de cada um". Ele acrescenta ainda que isso talvez seja o desafio maior que os professores atualmente estão enfrentando para sair da padronização do ensino, criando uma educação que possa valorizar as potencialidades distintas.

Conscientização - A Federação das Apaes do Estado da Bahia já desenvolve um trabalho no sentido de conscientizar, capacitando e treinando professores de escolas regulares públicas e privadas para o atendimento aos portadores de deficiência mental. A Apae de Salvador é um exemplo disso, atuando em dez escolas.

Para Itana Sena Lima, coordenadora do Programa de Inclusão Escolar, "o programa é mais um instrumento para auxiliar os professores na inclusão de pessoas com necessidades especiais na escola comum, como previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB".

Por meio das palestras, os professores são orientados a compreender a deficiência com o objetivo de evitar a discriminação e o preconceito cometido contra às pessoas com necessidades especiais. "O trabalho é desenvolvido, preliminarmente, com o levantamento dos alunos que já estavam matriculados nas escolas regulares. Depois, agendamos visitas para coletar dados sobre o aprendizado destes estudantes especiais e sobre as necessidades referentes às práticas dos professores, para logo em seguida desenvolvermos palestras com os docentes", descreve.

A inclusão das pessoas com necessidades especiais nas escolas é defendida por educadores como de extrema importância para a socialização destes jovens. Até porque, as escolas especiais só conseguem atender 2% dos deficientes no Brasil, segundo dados da Federação Nacional das Apaes.


O vídeo a seguir, apesar de retratar o esforço e capacidade dos portadores de Síndrome de Down no esporte, serve para mostrar que na educação, assim como em vários outros segmentos, a única coisa que diferencia uma pessoa dita "normal" do portador de defiência mental é o preconceito. Veja e confira.

*Acompanhe, também, no blog de Paloma Nogueira, a entrevista com a professora universitária e escritora,Ivanê Dantas, que vem desenvolvendo projetos de pesquisa direcionado à inclusão das crianças com deficiência visual nas escolas

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

ESPECIAL| Redesenhando a vida através das letras

Nada mais mágico e encantador que o desvendar das letras, do mundo de possibilidades que elas podem proporcionar. Maria de Lourdes dos Santos de Jesus, 68 anos, sabe como poucos esta importância. Há três anos matriculada no Colégio Antonio Vieira, no programa Educação para Jovens e Adultos, Dona Lourdes, como é conhecida, vem com muita coragem e persistência lutando para descobrir o significado das palavras.

O desafio é muito grande, mas a estudante continua firme. No início, os obstáculos pareceram intransponível; os olhos não ajudavam, o estado de saúde também não. Mas a força de vontade está fazendo com que ela siga em frente. “Quando entrei aqui não sabia escrever e nem ler. Quando me chamavam para assinar o meu nome na ficha do médico era o maior constrangimento”, diz Dona Lourdes, com um olhar triste, como se relembrasse da situação, que logo mudou. “Agora não, eu sei escrever o meu nome. Quando me chamam para assinar estou sempre pronta”, enfatiza.

Dona Lourdes não pôde estudar na infância e nem na adolescência, porque teve que trabalhar muito cedo para ajudar a família e, logo depois, para cuidar dos filhos, contudo nunca esqueceu da importância do estudo. Não é à toa que, aos 68 anos, com pressão e colesterol altos, mas, acima de tudo, com um sorriso largo e contagiante, ela enfrenta a noite e o caminho tortuoso para chegar à escola. Moradora do bairro de Engelho da Federação, pega dois ônibus para chegar ao bairro Fazenda Garcia, onde fica localizado o Colégio Antonio Vieira, e mais dois para voltar para casa, por volta das 11h da noite.

O esforço para alguns alunos em decodificar as letras é tão grande que alguns precisam da ajuda dos colegas numa luta diária para realizar os seus sonhos. A conquista é única para todos: aprender o significado das letras e, consecutivamente, do mundo. Num pedaço de papel aparentemente inofensivo se esconde para muitos um emaranhado de letras, que a primeiro instante parece um obstáculo difícil de ser transpassado. Mas aos poucos as primeiras letras A, B, C mostram-se um delicioso caminho de vitórias. O olhar mágico desvenda o doce significado das letras e a realidade antes desconhecida pela ausência dos significados se torna familiar.

Esta realidade de exclusão educacional e falta de oportunidade na infância e na adolescência não está somente restrita a Dona Lourdes. O programa desenvolvido pelo Colégio Antonio Vieira, há 35 anos, atende em média cerca de mil alunos, de idade entre 17 a 68 anos, das classes populares do Salvador, que não tiveram a oportunidade de estudar no período certo, pois a maioria teve que trabalhar. Apesar disso os alunos correm atrás para recuperar o tempo perdido e para também conquistar novos sonhos e amigos.

Um exemplo de superação é Jurandy América Ferraz dos Santos, 66 anos, que mora no bairro da Fazenda Garcia e recebe uma pensão do falecido marido. A pensionista menciona que a escola é mais que um espaço de educação, pois ali consegue fazer várias amizades e amenizar a depressão: “Com a morte do meu marido acabei ficando sozinha em casa. Por isso decidir voltar à escola. Aqui tenho vários amigos e não me sinto mais só”. O maior desejo de Jurandy é continuar em frente com os estudos: “O meu maior sonho é seguir em frente com o meu desenvolvimento escolar, passando de ano”.

Já Celina Alves dos Santos, 58 anos, ressalta: “Quando eu era pequena os meus pais não tiveram condições de bancar os meus estudos, por isso comecei a trabalhar com 11 anos e tive o meu primeiro filho com 15 anos”. Por um instante Celina deixa aparecer através da expressão facial que caminha pelas lembranças do passado, voltando ao presente ao pegar lápis da carteira e dando um suspiro. O maior sonho de Celina é ler e escrever. Em um determinado momento da entrevista, Cecília entusiasmada, comenta: “Adoro ver pessoas que escrevem rápido e um dia quero escrever assim”.

Na mesma sala de Celina e de Jurandy estuda Simone Souza Pereira, 22 anos, que desde 12 anos não estudava porque gostava mais de sair com as amigas para as festas do que ir para escola, menciona a importância de ter pessoas mais experientes como as colegas na sua sala. “Eu vejo que elas são interessadas no estudo, nunca faltam. Além disso, elas me mostraram que a vida pode ser diferente, pois elas estão correndo atrás. Eu antigamente achava que se estivesse no lugar delas não estudaria, porque ninguém contrata pessoas que não sejam bonitas e jovens”, comenta com a cabeça baixa.


Valorização do ser humano

As aulas decorrem entorno do desenvolvimento social e das relações inter-pessoais. Os alunos, independente da sua idade ou classe social, são tratados como seres humanos, na verdade não são somente alunos, mas, sim, Marias, Josés, Pedros, Joanas, Lourdes. Os professores não são os detentores do saber, mas, sim, facilitadores do aprendizado, porque na sala de aula o conhecimento é construído em conjunto, comenta com muita satisfação a coordenadora do programa, Marlene de Souza e Silva.

A professora de alfabetização Mônica Sá Barreto, graduada em Serviço Social, pela Universidade Católica do Salvador, e Normal Superior, pelas Faculdades Jorge Amado, vem desenvolvendo, ao longo de sua carreira, trabalhos voltados para esta inclusão social. E a alfabetização é justamente um meio que vislumbrou para atingir o seu objetivo: educar. A alfabetizadora salienta que a maioria dos alunos são das camadas populares e trabalhadores domésticos, que trabalham e moram no entorno, e de pessoas que vêm de outros bairros.
A educadora Mônica compõe uma equipe com cerca de 40 professores, que se relacionam com os alunos de forma carinhosa e afetiva. Esta por sinal é uma marca do método educacional adotado pelo programa. Vendo nesta metodologia uma forma de compreender o universo destas pessoas que trabalham no diurno e estudam à noite.

Além disso, a educadora ressalta que o Colégio Antonio Vieira importa-se com todos os detalhes, desde transporte dos alunos ou material que eles vão utilizar: “O Colégio se preocupa com todo o processo, desde transporte, quando percebemos que os alunos não têm as mínimas condições, até o material didático que é produzido na sala de aula, pois não dispomos de livros”.

Logo na entrada da sala dos professores, e em quase todo o Colégio, uma imagem de Nossa Senhora da Educação protege os alunos. Na mesma sala, o entra e sai de alunos é constante, pois muitos procuram os professores para conversar sobre os mais diversos assuntos. E os professores sempre estão dispostos a atendê-los.

A coordenadora do programa salienta que a escola tem que se adaptar ao processo de aprendizado dos adultos, pois a grande maioria das escolas não tem uma metodologia adequada para o desenvolvimento das potencialidades destes alunos. “Os Jesuítas foram muitos felizes em realizar uma educação para trabalhadores de baixa renda. Todos os espaços da instituição são disponibilizados. Além disso, temos como ponto principal o desenvolvimento humano”.

Nas mesmas carteiras, durante o dia, onde sentam os filhos das autoridades políticas e de artistas renomados, à noite, sentam os moradores dos bairros populares, que muitas vezes são empregadas domésticas ou porteiros dos prédios destes artistas ou políticos, sem a menor distinção.

Já a professora Mônica, enfatiza que tem o maior orgulho de seu trabalho: “Este trabalho é minha realização profissional e pessoal. Tenho muito orgulho de trabalhar com este grupo, pois é um grupo que está interessado na educação no seu sentido mais genuíno”.

(junho de 2006)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

CRISE NA EDUCAÇÃO CONTINUA...| Bahia regustra fraude na distribuição do livro didático

Uma série de reportagem de A TARDE revelam inúmeras irregularidades na distribuição de livros didáticos para escolas estaduais e municipais baianas. Na reportagem MEC abre 190 sindicâncias na fraude do livro didático, publicada hoje pelo mesmo jornal, o repórter Deodato Alcântara, denuncia que a Editora Moderna, líder na distribuição de livros para escolas públicas no país, é a principal beneficiária do sistema de fraude. O editorial de A TARDE também menciona diversas irreguladades. Confira o que diz o editorial: Fraude no livro

Mercadoria nobre, nem por isso o livro escapa a fraudes. A TARDE apurou e denunciou vultoso esquema de irregularidades na distribuição gratuita a escolas públicas municipais e estaduais, pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), de livros didáticos escolhidos por professores.

A denúncia está confirmada e adquire contornos de escândalo comparável à mistura de soda cáustica ao leite in natura. O MEC já abriu 190 sindicâncias e promete ir fundo na questão, que envolve o uso indevido de nomes de professores e funcionários de escolas e secretarias de Educação.

Formulários do Programa Nacional do Livro, gerido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), não chegam às escolas de ensinos médio e fundamental – ou, quando chegam, desaparecem.As indicações iniciais de títulos, feitas por professores, são substituídas, nos formulários e nos pedidos via internet.

O número maior de fraudes ocorre na Bahia, em escolas de Salvador e de outras cidades. Professores passam pelo dissabor de ver que os títulos escolhidos foram trocados por outros, de editora diferente, ou então seus nomes abonam várias vezes encomendas de escolas que não conhecem.

A verba total do programa é de R$ 968 milhões, dos quais uma editora, a Moderna, já faturou, este ano, R$ 211,8 milhões. A editora, que logo se defendeu em nota pública, credita as preferências dos docentes ao êxito do seu modelo de comercialização e ao preço menor dos
livros.

Serão distribuídos até o final do ano 128,5 milhões de livros aos ensinos fundamental e médio, incluindo as reposições. Ao todo, 150 mil escolas beneficiadas. A quantidade de livros e a disponibilidade de verba hão de gerar cobiça. A competição, que deveria ser saudável, restrita à qualidade didática do livro, se transforma em acirrada competição.Esta, por seu turno, vem a admitir processos fraudulentos de engenhoso mecanismo.

Como acontece amiúde em programas distribuidores de recursos, as intenções são boas, os planos bem formulados e, nesse caso, transparentes. Falta fiscalização – em certos casos, difícil e custosa –, e a corrupção está sempre atenta a pontos fracos e brechas.O governo gasta muito com a educação básica e não lhe convém minimizar um caso com mostras concretas de fraude, como este do livro didático.

CRISE NA EDUCAÇÃO| 64% dos professores baianos não tem formação superior

Após 11 anos da criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estipulava, em 10 anos, a formação superior de 100% dos dicentes no país, a Bahia registra um número vergonhoso: 64% dos professores baianos não possuem formação superior.

Novamente a Bahia se destaca de forma negativa no cenário nacional, quando se trata de educação pública. Desta vez o que nos assombra é a qualidade do ensino que é passado por professores das escolas da rede estadual e municipal de ensino. Segundo matéria de A TARDE, publicada hoje, 64% dos docentes baianos ainda não possuem formação superior, o que interfere diretamente na qualidade de ensino.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabeleceu, em 1996, que, em 10 anos, 100% dos professores tivessem formação plena, mas o que vemos atualmente no Estado, após 11 anos, é que a Lei não foi cumprida e está muito longe de ser alcançada.

Se continuamos no mesmo passo, diga-se de passagem “de forminga e sem vontade”, como na canção de Lulu Santos, a Bahia só terá os 80 mil docentes que lecionam sem possuir curso superior com formação universitária daqui há 22 anos.

Enquanto isso, quem perde com esta situação são os estudantes e a educação pública, que a cada dia fica mais sucateda. Isso já é visível a olho nu, e as estatísticas não deixam mentir. A Bahia é o estado brasileiro com o maior números de analfabetos do país. E o projeto do governo do Estado quer mudar esta realidade em 10 anos. Quase dois anos se passaram e resultados concretos ainda não foram alcançados.

Segundo o diretor do Instituto Anísio Teixeira (IAT), Penildon Silva, a meta do governo “é que até 2011 a rede estadual tenha todos os seus docentes graduados. Ainda estamos buscando parcerias com as prefeituras para ampliar a formação nas escolas municipais. O órgão, vinculado à Secretaria Estadual de Educação, é responsável pela capacitação de servidores estaduais.

A matéria de A TARDE afirma que “a formação dos professores é feita por meio de parcerias com as universidades estaduais, federais, além de algumas instituições privadas. Atualmente os cursos são presenciais, mas o IAT estuda o uso da educação à distância para a capacitação dos docentes, através do Programa Universidade Aberta, do governo federal”.

Dificuldade – A reportagem revela, ainda, que “uma das principais queixas dos professores em formação é a dificuldade de conciliar o curso universitário com a rotina desgastante da sala de aula. De acordo com Cecília Caramés, graduanda do curso de matemática da Universidade Federal da Bahia (Ufba) , “a nossa carga horária de trabalho é de 40 horas semanais, por isso sobra pouco tempo para se dedicar à faculdade. Temos que estudar nos sábados, domingos e madrugadas”.

Cecília leciona há 16 anos no Colégio Estadual Raphael Serravale e possui apenas a chamada licenciatura curta nas áreas de ciências e matemática. Criada em 1971, este tipo de graduação foi formulada para dar uma formação rápida e generalista aos professores. “A intenção era atender a crescente demanda por docentes nas escolas de ensino fundamental da rede pública. A licenciatura curta, contudo, foi extinta com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases”, revela a reportagem.

Apesar das adversidades, os docentes reconhecem a importância de uma formação universitária. Para o professor de educação física Álvaro Macedo, graduado há mais de 20 anos, uma permanente capacitação do docente deve ser também incentivada pelo governo para melhor a qualidade de educação pública. “O curso superior é só o primeiro passo”, opina.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Alunos anunciam greve de fome

Depois da desocupação da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba) por intermédio da Polícia Federal no último dia 19, os estudantes decidiram radicalizar.Pelo menos seis deles já anunciaram que vão iniciar uma greve de fome hoje, em protesto contra a forma como o reitor Naomar Almeida tem conduzido o debate em torno do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades federais – Reuni, projeto da União que a Ufba pretende aderir.

Hoje acontecerá, a partir das 9h, uma reunião de estudantes na Reitoria da Ufba para discutir novas estratégias de protesto. A deliberação para uma nova ocupação não está descartada. Na coletiva realizada ontem no auditório da Faculdade de Arquitetura, na Federação, forraram a mesa da plenária com uma toalha preta, simbolizando o estado de ânimo.

Fonte: A TARDE

terça-feira, 20 de novembro de 2007

ESPECIAL DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA| Cotistas mostram bom desempenho

No Dia Nacional da Conciência Negra, o Meu mundo em movimento publica uma reportagem analisando os cinco anos de implantação do sistema de cotas em algumas universidades públicas brasileiras. A reportagem foi publicada no caderno espacial Dia da Consciência Negra, de A TARDE. Confira!

Cinco anos se passaram desde a implantação do sistema de cotas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) - pioneira no Brasil a adotar, por medida de lei estadual, a reserva de vagas para estudantes negros e oriundos de escola pública. A medida, apesar do tempo e de diversas discussões calorosas (contra e a favor), ainda continua a gerar muita polêmica em todo o País.

Prova disso é o embate entre os que acreditam que as cotas são a melhor maneira de incluir socialmente os negros na universidade e aqueles que vêem essa ação como medida paliativa e racista, porque divide a população entre brancos e negros e não atinge o cerne da questão, que é a melhoria da educação pública.

Qual das duas partes tem razão neste debate? Os a favor ou os contra as cotas? A resposta a esta pergunta talvez esteja longe de um consenso. Mas a legalização das cotas, não. Dois projetos de lei (Lei das Cotas e Estatuto da Igualdade Racial), em tramitação atualmente no Congresso Nacional, tentam sancionar as cotas em todas as universidades públicas.

Mas os contrários a essa medida, como a antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Yvonne Maggie, são radicais ao afirmar que a reserva de vagas para negros compromete o princípio de igualdade previsto na Constituição brasileira. "O Brasil optou por um caminho de separar legalmente a população entre brancos e negros, com a discussão destes dois projetos de lei. Estes projetos, se votados e aprovados, vão mudar o Estatuto Jurídico Brasileiro. E isso é grave", responde Yvonne, apreensiva com a possibilidade.

Frei David dos Santos, diretor-executivo da ONG Educafro, refuta a opinião da professora Yvonne, dizendo que ela está equivocada. “O projeto de Cotas e o Estatuto da Igualdade “irão, sabiamente, combater a separação que já está implantada no Brasil e que gera a exclusão. Esta separação oficial começou com a definição jurídica de que negros eram escravos dos brancos e não tinham direito à cidadania“.

Segundo o ativista, a mais recente análise dos dados da Uerj, agrupando as informações destes cinco anos de cotas, revela que os alunos não-cotistas obtiveram média global de 6,37 pontos, enquanto os cotistas obtiveram média de 6,51 pontos.Estudos feitos, em 2006, pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) para avaliar o desempenho dos estudantes cotistas, em diversos cursos, também revelam que os cotistas tiveram desempenho igual ou superior aos não-cotistas em 56% dos cursos.

Nas graduações de alta concorrência, como as de comunicação social (jornalismo e produção cultural), por exemplo, 100% dos estudantes cotistas obtiveram coeficiente de rendimento entre 5,1 e 10,0 em todo ano de 2005, contra 88,9% dos não-cotistas. É o caso do estudante do 5º semestre de jornalismo, Neumar Rosário de Almeida, dono do melhor escore do curso da Faculdade de Comunicação.

No curso de medicina, o mais concorrido da universidade, 93,3% dos cotistas apresentaram coeficiente de rendimento entre 5,1 e 10,0, contra 84,6% dos não-cotistas.Antes da implantação do sistema de cotas, a média geral de participação de estudantes de escola pública na Ufba era de 39,8%. Atualmente, esse quadro aumentou para 48%, com variação a depender do curso.

"Naturalmente isso não caracteriza que os estudantes cotistas são melhores que os não-cotistas. Significa apenas que os cotistas estão fazendo um grande esforço para ter um bom desempenho na universidade, e eles estão conseguindo", destaca o pró-reitor de Ensino de Graduação da Ufba, Maerbal Marinho.

Uneb tem 6,5 alunos nas cotas

Neste ano, o sistema de cotas na Uneb completou cinco anos, com as primeiras turmas de formados. Segunda universidade no Brasil a adotar o sistema de cotas, a Universidade Estadual da Bahia (Uneb), em 2002, por meio do Conselho Universitário, determinou que 40% das vagas do vestibular fossem reservadas para estudantes negros oriundos de escolas públicas.


Apesar das duras críticas que recebeu no início, sendo acusada de criar um processo racista de seleção, a Uneb, atualmente, tem números grandiosos de inclusão: dos 16 mil estudantes da universidade, 6.500 são cotistas. Segundo o coordenador do Projeto de Acompanhamento, Manutenção e Avaliação de Ações Afirmativas (AMA) da Uneb, Manoelito Damasceno, nestes cinco anos, foi possível verificar que a avaliação de desempenho dos cotistas é positiva, porque já se identificou que não há diferença entre o desempenho acadêmico dos alunos cotistas e não-cotistas.

Quando questionado se com os bons resultados do sistema não seria a hora de acabar com a reserva de vagas, o coordenador foi enfático: “Não. Isso depende do processo e de seus resultados. Se o efeito está sendo positivo, não tem por que mudar. A medida deve ter um caráter que atenda à realidade. Quando tivermos condições sociais igualitárias, as cotas irão, naturalmente, acabar”.

Quem é negro - Uma das principais polêmicas que envolvem o sistema de cotas, nas universidades que adotam a reserva de vagas para estudantes negros, é como determinar quem é ou não negro. Esta polêmica se agravou depois do caso dos irmãos gêmeos idênticos (univitelinos) Alex e Alan Teixeira da Cunha, 18 anos, que se inscreveram pelo sistema de cotas da Universidade de Brasília (UnB), em junho de 2007.

Um dos irmãos foi aceito no sistema, o outro, não. Tempos depois, após uma grande repercussão nacional, a universidade recuou na decisão e decidiu aceitar os irmãos pelo sistema de cotas. Essa situação fez com que a UnB mudasse o processo de seleção dos cotistas. Agora, conforme o edital do vestibular 2008, os candidatos que se declararem negros ou pardos deverão ser submetidos a uma entrevista presencial com uma equipe da instituição. Antes, os estudantes precisavam apenas enviar fotografias para se candidatar às vagas reservadas a negros e índios.

PERFIS Neumar Rosário, estudante cotista com o melhor escore da Facom

Nascido no primeiro dia de março de 87, Neumar é um pisciano, mas garante que isso não é nada que vá definir sua personalidade. O pai Osmar trabalha como gari e a mãe Neusa vende frutas e doces num pequeno comércio em Pernambués, bairro onde vivem. “Eu moro com meus pais, mas à noite fico na casa de minha vó. Eu não gosto da idéia dela dormir sozinha”.

Além da companhia, Neumar ajuda também nas contas da casa. Das duas casas.Testemunha de Jeová, o aspirante a jornalista começou a trabalhar como menor aprendiz no Centro de Recursos Ambientais (CRA) quando estava na 8ª série do ensino fundamental e está lá até hoje. Foi a isenção da taxa do vestibular da Ufba que o motivou a fazer as provas. “Sem isso eu nem teria me inscrito”.

Ele escolheu o curso de jornalismo por causa da afinidade com as matérias humanas.Quando perguntado sobre o sistema de cotas, pelo qual ingressou na universiade, Neumar hesita. Ele balança seu tênis all-star bege, ajeita a manga da camisa de algodão com listras azuis, procura as palavras com um olhar distante. “Acho que as cotas não são a melhor solução para o problema do acesso à universidade, mas talvez funcionem como um início de um processo que tente equacionar melhor a educação no nosso país”, diz.

Neumar tem as melhores notas de sua turma, no curso de jornalismo, incluindo alunos cotistas e não-cotistas. Apesar de ter tido média dez numa disciplina considerada muito difícil, ele garante que não estuda mais que os outros, mesmo porque “tempo mesmo só à noite, depois do trabalho, e aos finais de semana”.

Dedicação maior, não pode dar, porque precisa trabalhar. Sem o salário que recebe no estágio, Neumar afirma que não estaria estudando hoje na Ufba, mesmo sem ter de pagar mensalidade. “Eu não me vejo sem trabalhar. Eu não teria dinheiro para pegar um ônibus ou pagar uma xerox da faculdade”.


ENTREVISTA "A medida não surgiu do nada"


Primeira mulher negra a assumir o cargo de reitora em uma universidade pública no Brasil, Ivete Sacramento foi decisiva para a adoção das cotas na Bahia. Longe da cadeira de reitora, mas não da universidade, continua a lutar pelo direito de acesso. Em entrevista ao A TARDE, ela revelou o processo para implantação das cotas na Uneb.

A TARDE - Como se deu a implantação das cotas na Bahia?

Ivete Sacramento - Em 2001, a Câmara dos Vereadores, por meio de uma indicação do vereador Valdenor Cardoso, hoje presidente da câmara, enviou uma proposta, aprovada em plenário, à Secretária Estadual da Educação, para que a Universidade Estadual da Bahia implantasse cotas para negros.

AT - Quais foram as primeiras medidas para adoção das cotas?

Ivete Sacramento - A primeira medida que tomamos foi apoiar pré-vestibulares, na época só tinha o Steve Biko, que tivessem recorte racial. De que forma nós apoiamos essas iniciativas? Com a isenção da taxa do vestibular. A segunda medida foi estudar o vestibular em si para ver se na elaboração das provas nós estávamos beneficiando um ou outro segmento. Então verificamos, e isso não esta restrito somente ao vestibular da Uneb, que o vestibular era elaborado pensando em quem tivesse cursado pré-vestibular. Em tese, o vestibular era elaborado e privilegiava uma determinada classe social. Então precisamos ter um nível democrático na elaboração do vestibular, e isso significava se basear a elaboração do vestibular nas diretrizes de educação média do Estado. E foi o que fizemos.

AT - Isso significava uma prova diferenciada para os estudantes cotistas?

Ivete Sacramento - É um equívoco dizer que os candidatos cotistas seriam avaliados por meio de uma prova diferenciada. A prova é a mesma. É o mesmo sistema de avaliação. O que difere o cotista do não-cotista é que ele faz uma opção. E ao fazer a opção para ser cotista, ele tem que está enquadrado em determinados critérios: ser estudante da rede pública e se declarar negro.

AT - Mas a noção de ação afirmativa estava clara?

Ivete Sacramento - Naquele momento a noção de ação afirmativa e afrodescendência não estavam em questão ainda no Brasil. Para se ter uma idéia, da abolição da escravatura a adoção das cotas, nenhuma ação afirmativa concreta tinha sido realizada para melhorar a qualidade de vida do povo negro do Brasil. Então, primeira contribuição que a adoção das cotas na Bahia favoreceu, foi a discussão de quem é negro no Brasil.

AT - Muitas pessoas desconhecem a história por trás das ações afirmativas. Como a senhora avalia isso?

Ivete Sacramento - O grande equívoco é pensar que esta medida surgiu do nada. Não. Esta medida é fruto do trabalho, especialmente do Movimento Negro Unificado, que vem discutindo, desde 1976, formas de se ampliar à participação do negro na economia e no desenvolvimento deste País. E a criação das cotas é uma destas medidas.

Colaborou o repórter MATHEUS MAGENTA

sábado, 17 de novembro de 2007

Prova do vestibular da Ufba e UFRB será aplicada amanhã

O vestibular 2008 da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) acontece amanhã (18) e segunda-feira (19). São 4.264 vagas na Ufba e 1.426 vagas na UFRB, que terá 13 novos cursos [a maioria noturnos]. As federais baianas receberam 39.197 inscrições, uma queda de quase 8% em relação ao vestibular 2007, quando 42.719 estudantes se candidataram.

Neste domingo, os candidatos respondem 10 questões objetivas de português e 20 objetivas de ciências naturais. Na segunda-feira é a vez de matemática [10 questões], ciências humanas [18] e língua estrangeira [7]. O cartão informativo [com local das provas] está disponível na
internet.

A prova começa às 8h e tem cinco horas de duração. A saída das salas só será permitida a partir das 10h. Para levar o segundo caderno de respostas, só a partir das 11h30.O serviço de seleção recomenda que os candidatos cheguem aos locais de prova com 30 minutos de antecedência. Os portões de acesso aos estabelecimentos serão abertos às 7h30 e fechados às 7h50. O restultado deve sair até 10/12. As provas da segunda fase, de redação e habilidade específica, serão realizadas entre os dias 16 a 21/12.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Livro analisa a escola brasileira

Publicação voltada para a análise da escola será lançado no próximo dia 13, na Assembléia Legislativa da Bahia. O livro é de autoria do professor da Uneb Antônio Amorim.

Compreender as diversas dimensões da escola brasileira, analisando sua complexidade, pluralidade e as diferentes missões para a escola e o futuro educacional do País. Estas são algumas das abordagens propostas pelo professor Antônio Amorim, em seu mais novo livro Escola: uma instituição social complexa e plural.

O lançamento nacional da obra está previsto para o dia 13, às 12h30, no salão de entrada da Assembléia Legislativa, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador. Para autor, em uma entrevista publicada no site da Universidade Estadual da Bahia, “o livro traz questões sobre o que é a cultura popular e escolar e como as visões da escola se sobrepõem à cultura adquirida pelo estudante durante sua trajetória de vida”.


Amorim destaca, ainda, que o livro trata também de assuntos do cotidiano escolar, qualidade de ensino, visão das famílias sobre as instituições, entre outros. A obra, publicada pela editora Viena, já está em todas as livrarias do país.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Secretaria de Educação discute arte na escola

A Secretária Estadual de Educação (SEC) promove, amanhã (31), debate sobre o incentivo à arte na escola. O evento promete reunir especialistas das diversas linguagens artísticas, professores e estudantes da rede estadual. A proposta da SEC é estreitar arte e educação na escola, fortalecendo o aprendizado, a interação com a comunidade e o acesso dos dicentes à arte e à cultura. Segundo o site da secretaria, o encontro será transmitido por meio de videoconferência, com interação, em tempo real, entre os participantes de Salvador e do interior do estado.


PROGRAMAÇÂO:

8h - Abertura

9h - Arte e Modernidade - Antonio da Silva Camara.

9h30 - Educar com Arte e a Arte de Educar - Gey Espinheira.

10h - O Ensino de Artes no Brasil: reflexões e perspectivas - Reginaldo Carvalho.

10h30 - Debate

12h30 - Almoço

14h - A Música é uma Escola - Paulo Lima

14h30 - Dança na Escola: Para quê? - Lúcia Matos

15h - O Teatro no Desenvolvimento de Potencialidades e Competências na Escola - Luiz Marfuz.

15h30 - A Experiência Estética Acessível a Todos Nós - Edson Calmon

16h - Metodologias e Conteúdos de Artes no Processo Educativo - Edson Calmon

16h30 - Debate

18h - Encerramento

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Fusão de turmas gera polêmica no Central

Amélia Vieira e Mariana Mendes, do A TARDE

Vinte e sete das 108 turmas do Colégio Estadual da Bahia (Central), em Nazaré, serão extintas e 280 alunos remanejados para outras salas. O processo de “enturmação” é resultado da evasão de 1.041 estudantes. As causas para essa debandada de uma tradicional escola da Bahia são desconhecidas. Um dos motivos aventados é a matrícula ter sido superestimada.

O diretor da unidade, Jorge Nunes, acredita que o número elevado pode ser resultante da inscrição de pessoas que pretendiam apenas obter benefícios exclusivos para estudantes ou ter acesso a estágio remunerado. Mais essa mazela na educação do Estado foi detectada pelo diretor do Central, que assumiu o cargo em julho. Ele optou por oficializar a “enturmação”, que já vem ocorrendo na prática, visto que há turmas freqüentadas por pouco mais de cinco alunos.

O vice-diretor do Central, Tupinan Costa Dantas, garante que a reestruturação – “enturmação” – é uma movimentação que vai viabilizar aulas para os alunos. “A proposta da direção é que os professores que ficarem sem turma apresentem um programa com projetos paralelos de ensino (aulas de reforço escolar, atividades extras, projetos científicos, recuperação paralela, entre outros)”, declara.

A direção do Central é contra deixar a escola na mesma situação que vinha se estendendo há tempos e, por isso, quer efetivar as mudanças. “Não é correto deixar para discutir a situação só no ano que vem. Se nunca foi tomada uma decisão, agora tomamos. Não se arruma a casa sem levantar poeira”, diz o diretor. Para Nunes, não é decente deixar os alunos sem aulas até o fim do ano letivo. Já o vice-diretor avalia que a ação é positiva para resolver os problemas internos e emergenciais do colégio.

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Escola de personagens célebres
Juracy dos Anjos, do A TARDE

Quem circula pelos corredores e prédios do Colégio Central, em Nazaré, ou até mesmo em frente a ele, muitas vezes não se dá conta da sua importância histórica. Um dos centros educacionais mais antigos da Bahia, o colégio, criado em 1836, começou a funcionar como Liceu Provincial da Bahia, logo no ano seguinte à sua fundação.

Com a reforma do sistema pedagógico, feito pelo governo republicano, em 1890, o Liceu transformou-se em Instituto Oficial de Ensino Secundário.Neste período, a escola passava a exercer o papel de transformar súditos em cidadãos. As transformações vividas pelo Colégio Central não pararam por aí. Em 1896, o Instituto é renomeado Ginásio da Bahia e equiparado ao Colégio Pedro II, passando a ser uma das referências de excelência em ensino do Brasil na época.

Em 1942, outra mudança de nome, mas esta agora definitiva: Colégio Estadual da Bahia. Três anos depois, a quantidade de estudantes aumenta no Estado e são criadas seções de ensino. O Colégio Estadual é, então, designado seção Central, daí o nome pelo qual ficou mais conhecido até os dias atuais.

CÉLEBRES – Outro fator importante que marca a história do Central é a passagem de estudantes célebres. Entre eles: o presidente da Petrobras José Sérgio Gabriele, o cantor Raul Seixas, os ministros Geddel Vieira Lima, Gilberto Gil, o ex-ministro Waldir Pires, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, o ex-secretário de Educação Eraldo Tinôco, a deputada Lídice da Mata, o escritor João Ubaldo Ribeiro, o cineasta Glauber Rocha, o educador Cid Teixeira e o mártir da resistência à ditadura e poeta Carlos Marighela.

Segundo o diretor do Colégio Central, Jorge Nunes, existe, no acervo da instituição, uma prova de física do poeta Marighela respondida toda em versos. Ele destaca que além da prova, o acervo histórico do colégio é possuidor de grandes títulos."Por causa disso, o colégio está tentando institucionalizar o acervo e criar um memorial, para facilitar o acesso", afirma o educador.

EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA| Jogos eletrônicos: ferramenta importante na aquisição do saber

Discussão sobre a criação de jogos eletrônicos educacionais reuniu professores e profissionais do setor tecnológico, nos dias 22 e 23 deste mês, no campus I da Uneb. Para compreender melhor a importância dos jogos na vida dos estudantes, o repórter Juracy dos Anjos entrevistou a coordenadora do evento, a professora Lynn Alves.

"A presença dos elementos tecnológicos na sociedade vem transformando o modo dos indivíduos se comunicarem, se relacionarem e construírem conhecimentos. Somos hoje praticamente vividos pelas novas tecnologias".

A partir desta reflexão,
Lynn Alves, professora do mestrado em educação e contemporaneidade da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e autora do livro Game Over: Jogos Eletrônicos e Violência, demonstra a importância da tecnologia, em especial os jogos eletrônicos, na vida dos jovens contemporâneos.

Lynn também coordenou, entre os dias 22 e 23 de outubro, o workshop Desenvolvimento de Jogos Digitais no Nordeste – Mapeando possibilidades, realizado no campus I Uneb, no Cabula. O evento foi voltado para os profissionais da área de educação e tecnologia, bem como para estudantes e interessados pela temática.

Encarados por muitos como nocivo e prejudicial ao desenvolvimento cognitivo dos jovens, os jogos eletrônicos, segundo a professora, vêm ganhando espaço entre vários estudos e demonstram que podem ser mais um instrumento pedagógico no ambiente escolar. Esta reflexão partir da concepção que existe hoje uma geração submerso no mundo da tecnologia, que tem acesso a tecnologia, seja por meio da televisão ou dos vídeos-game ou das LAN house.

De acordo com Lynn, os sujeitos nascidos na pós-modernidade estão imersos em um mundo altamente tecnológico. Esta geração é defendida pelos estudiosos como os "nativos digitais" ou "geração mídia". Uma categoria que vem sendo largamente discutida na atualidade.

Com a utilização de alguns jogos eletrônicos, a exemplo do Simcity, Civilizations e RPG, "os professores podem trabalhar o aprendizado em geografia, história, porque nesse jogo desafia os estudantes a administrar recursos, criar cidades, enfrentar catástrofes, fazer escolhas, planejar, entre outras coisas", comenta a educadora Lynn.

Nesta perspectiva, por meio dos jogos eletrônicos, os estudantes são estimulados a saber quais as conseqüências de colocar uma escola perto de uma fábrica poluente, além de verificarem quais os problemas sociais ou de saúde as ações realizadas durante o jogo podem causar.

De acordo com Lynn, até mesmo nos jogos violentos, tanto crítica pelos pais, podem servir de fonte de aprendizado e estímulo entre o público jovem. "Você pode trabalhar a questão cognitiva, pois estes jogos exigem uma habilidade sensorial e motora muito grande, tomada de decisão e planejamento estratégico", conclui Lynn.

Acompanhe o que aconteceu nos dois dias de workshop:

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Implantação de Parque Tecnológico é discutido em evento da Uneb
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Desenvolvimento de jogos digitais no Nordeste

Assista também ao vídeo Jogos Educativos, feito pelo Globo Ciência.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Professores e alunos da rede municipal terão acesso a jornais em sala de aula

Todas as escolas da rede municipal de ensino dentro em breve receberão jornais para utilização pedagógica em sala de aula. Trata-se do Programa "A Notícia na Sala de Aula", que será lançado no dia 24 de outubro, às 16h30, no gabinete do prefeito João Henrique. Os alunos e professores das 368 escolas do sistema municipal de educação pública serão beneficiados com exemplares diários do jornal A Tarde, vencedor do processo licitatório.

O Programa A Notícia na Sala de Aula foi instituído através de decreto (17.339) assinado pelo prefeito João Henrique em maio deste ano, onde é assinalado "que o objetivo desta ação é a orientação dos jovens e adolescentes para o exercício da cidadania, com ênfase na formação do hábito da leitura e da convivência com o pluralismo de idéias, no desenvolvimento sócio-cultural e do senso crítico".

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Jogos Estudantis atraem mais de cinco mil estudantes

Cerca de cinco mil estudantes participarão dos Jogos Estudantis Municipais, em sete modalidades. A competição começa amanhã e processegue até a primeira semana de novembro.

A terceira edição dos Jogos Estudantis Municipais teve início na tarde desta sexta-feira, com a presença de cerca de cinco mil pessoas, entre professores, organizadores e estudantes. O desfile, animado pelas bandas da Polícia Militar e de escolas participantes, fez o trajeto da Rótula dos Barris ao Ginásio Antônio Balbino (Balbininho), em Nazaré, com muito entusiamo. Oitenta e duas escolas participaram da abertura.

Mas nem todas estão inscritas nos jogos, que contará com representantes de 75 unidades educativas. Os jogos começam amanhã (20) e prosseguem até a primeira semana de novembro. Os estudantes poderão competir em sete modalidades: natação, atletismo, futsal, handebol, vôlei, capoeira e xadrez.

Segundo a organização dos jogos, devem participar dos jogos cerca de cinco mil estudantes da 1ª a 8ª série das escolas municipais divididos em quatro categorias: C (de 8 a 11 anos), B (12 a 14 anos), A (15 a 17 anos) e adulto (a partir de 18 anos).

Para amanhã, estão programados oito partidas de futsal disputadas pelos alunos do Projovem – categoria adulto. Durante o campeonato, todos os jogos de futsal, handebol, vôlei e xadrez acontecem nas duas quadras da Escola Municipal Cid Passos, no Subúrbio Ferroviário. As modalidades natação, atletismo e capoeira devem ter o local confirmado na próxima semana.

Aprovação de adesão da UFBA ao Reuni vira confusão

Por Tássia Novaes, do A TARDE

A adesão da Universidade Federal da Bahia (Ufba) ao Reuni foi aprovada aos berros. O reitor Naomar de Almeida gritava para conduzir a votação, enquanto os estudantes tentavam interromper a tentativa de reunião do Conselho Universitário, na manhã desta sexta-feira, 19, no auditório da Faculdade de Direito.

A votação estava marcada para começar às 8 horas. Mas o reitor tomou posse do microfone, às 8h18, após ouvir várias paródias com relação à posição de parte dos estudantes contra a adesão ao programa do Governo Federal. “Peço que o espaço dos conselheiros seja desocupado”.

Mesmo com o microfone, foi quase impossível entender a fala do reitor. Em meio a confusão, de todo o discurso do dirigente da Ufba, apenas deu para identificar frases como, “Quem é à favor levante a mão? Quem é contrário à adesão?”. E assim foi feita a votação: entre os braços levantados dos protestantes acusando o reitor e os dos conselheiros, o reitor contava quem era contra ou favor.

Fonte: A TARDE

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Universitários protestam contra a adesão da Ufba ao Reuni

O grupo de estudantes que ocupa a Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba), há 18 dias, hoje à tarde encorporou mais membros. Agora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), que chegaram local, no Canela, acompanhados por cerca de 150 estudantes. O motivo da adesão é a votação sobre a inclusão da universidade no Reuni, que acontece amanhã às 8h, no auditório da Faculdade de Direito da Ufba, no Pelourinho.

Segundo matéria publicada em A TARDE, "o DCE, a princípio a favor do Reuni, foi obrigado a aderir ao movimento de ocupação da reitoria devido a uma assembléia geral dos estudantes realizada na manhã desta quinta, na Faculdade de Direito da Ufba. A deliberação foi incisiva: a maioria votou contra a adesão ao Reuni e o DCE foi submetido a esta decisão. As atividades no prédio da reitoria funcionam normalmente".

Vídeo mostra ocupação da reitoria da Ufba


Estudantes realizam nova manifestação em Salvador

Por Wesley Sobrinho, da Agência A TARDE

Alunos de vários colégios se uniram na manhã desta quinta-feira, 18, para realizar uma caminhada em protesto pelas ruas de Salvador. Um grupo de estudantes partiu do Colégio Central, pela Avenida Joana Angélica, e está nesse momento na Praça da Piedade. Um segundo grupo estava concentrado na Avenida Sete, mas já partiu para a mesma praça. Juntos, os manifestantes seguem em direção à Praça Municipal.

Há duas semanas (quinta-feira, 4), um protesto foi realizado pelos mesmos manifestantes. Eles reivindicavam a redução no valor de
recarga do SalvadorCard de R$ 24 para R$ 4, validade indeterminada dos créditos, redução no valor da tarifa de ônibus e instalação do Vale Transporte Eletrônico (VTE) nos transportes complementares. A manifestação, que acontece neste momento, sustenta os mesmos ideais. As informações são da Superintendência de Engenharia de Tráfego (SET).

Fonte:
A TARDE

Uneb realiza workshop sobre jogos digitais educacionais

Evento reúne especialistas brasileiros em workshop sobre o desenvolvimento de jogos digitais educacionais no Nordeste. Inscrições gratuitas e vagas limitadas.

Jogos digitais educacionais será tema do workshop Jogos Digitais no Nordeste – Mapeando possibilidades, promovido pelo departamento de Educação da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e pelo grupo de pesquisa Comunidades Virtuais. A idéia do evento é incentivar e fortalecer as ações na área de desenvolvimento de jogos digitais voltados para o campo educacional.

Sob coordenação da professora Lynn Alves, referência na temática, o evento vai acontecer nos dias 22 e 23 de outubro, no Auditório Jurandir Oliveira, também no Campus I, em Salvador. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas na
internet.

De acordo com a coordenadora, o workshop pretende mapear os grupos locais de interesse, discutir e apresentar possibilidades de projetos a curto, médio e longo prazo e reunir as diversas inteligências na área para que a região nordeste possa fortalecer suas pesquisas.

Participam do evento nomes como o do cineasta e diretor do Centro Técnico Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC), José Araripe Júnior; dos pesquisadores Filomena Moita, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Esteban Clua, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Geber Ramalho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e Marco Simões (UNEB).

O público-alvo é formado por estudantes, graduados e pós-graduandos que se interessem pelas pesquisas e práticas nessa área.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Cefet abre inscrições para cursos de extensão

Começa amanhã (18), e vai até a próxima sexta-feira (22), as inscrições para os cursos de extensão do Cefet de Camaçari, nas áreas industrial e tecnológica (Informática, Eletricidade Básica, Comandos Elétricos e Instalações Elétricas em Locais de Habitação).

As inscrições podem ser realizadas na Coordenação de Ensino Superior e Profissionalizante da Prefeitura de Camaçari e na unidade do Cefet no Município. Os candidatos devem entregar currículo atualizado em um dos pontos de inscrição, das 8h às 16h.

As aulas, segundo informou a organização da seleção, serão iniciadas entre os dias 29 e 30 deste mês, com exceção de comandos elétricos, cujo aproveitamento das aulas de eletricidade básica são consideradas pré-requisito.

Com carga horária de 20h a 40h, as qualificações serão ministradas por professores do Cefet na sede da unidade, que funciona nas antigas instalações do Laboratório de Tecnologia Automotiva (LTA), próximo a Escola Estadual Luís Eduardo Magalhães, no Centro.

Os cursos de informática e comandos elétricos vão disponibilizar 20 vagas cada um, enquanto eletricidade básica e projetos elétricos vão absorver 30 alunos por turma. Até o final do ano, a expectativa é oferecer desenho técnico industrial e AutoCad 2D.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Ufba é a primeira universidade do Nordeste a aderir ao Reuni

O Reitor da Ufba, Naomar Almeida, apresentou à imprensa e a deputados federais, a proposta de inclusão da instituição no Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Com a adesão, haverá ampliação do número de vagas e a construção de um novo pavimento na universidade.

A Universidade Federal da Bahia (Ufba) é a primeira instituição de ensino superior do Nordeste a confirmar sua inclusão no Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), criado pelo Ministério da Educação (MEC). A confirmação da universidade no programa foi feita, na manhã desta de segunda-feira (15), pelo Reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Naomar Almeida.

A proposta da Ufba, apresenta à imprensa e a deputados federais, estabelece mudanças, a serem cumpridas até 2012, como a ampliação exponencial do número de vagas (2.530 noturnas e 2.536 diurnas), criação de 35 novos cursos, construção de pavilhão de aulas, reformas de residências universitárias, dentre outras. As primeiras alterações, segundo o reitor, estão programadas para o início do próximo ano.

O decreto federal nº 6096, que instituiu o Reuni este ano, tem como meta ampliar o acesso e permanência dos estudantes na educação superior e estabelece disponibilização de recursos de um fundo para investimentos. Nos próximos quatro anos, R$ 2 bilhões serão destinados às universidades federais.

Outras universidades - Segundo o Ministério da Educação, além da federal do Tocantins, o Conselho Universitário da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) aprovou, no último final de semana, a adesão ao Reuni. Por causa da adesão, nos próximos dois anos, os cursos de mestrado passarão de 26 para 30, e os de doutorado de oito para dez. Até o dia 29 de outubro as 18 unidades da Ufam devem apresentar seus projetos ao MEC, com propostas de criação de cursos e aumento do número de vagas.


No início do mês, o Conselho Universitário da Universidade Federal de Tocantins (UFT) havia aprovado, por unanimidade, a proposta de adesão ao Plano. No estado do Amazonas, o debate sobre o Reuni durou oito meses.

Reuni — Até o próximo dia 29, as universidades federais podem apresentar suas propostas de reestruturação e expansão para o programa. A adesão ao programa é voluntária. Os projetos devem prever investimento em custeio, contratação de pessoal, aquisição, instalação e manutenção de equipamentos, construção e recuperação de instalações físicas das instituições.


|DIA DO PROFESSOR| O que comemorar nesta data?

15 de outubro: Dia do professor. Do mestre incumbido pela transmissão e geração de conhecimento, na teoria, pelo menos. Mas será que esta data deve ser comemorada? Será que existem motivos para que os professores brasileiros festejaram seu dia? Acredito, e o artigo de Gilberto de Dimenstein mostrará, que não. Problemas básicos ainda assolam a educação brasileira, que rasteja em pleno século 21, atrapalhando o desenvolvimento do país. Falta estrutura nas escolas; reconhecimento dos profissionais; de políticas públicas voltadas, de fato, para a educação. Falta participação dos pais e familiares. Falta um sistema educacional que veja o aluno como peça fundamental. O artigo abaixo mostra outros pontos que precisam ser melhorados, e urgentemente. Acompanhem, comentem e deixem suas impressões.

A tragédia dos professores enlouquecidos

por Gilberto de Dimenstein

Depois de pegar um de seus estudantes mais indisciplinados e agressivos pela gola e rasgar sua camisa, Sirley Fernandes da Silva, professora de uma escola estadual na periferia de São Paulo, pediu licença médica e resolveu procurar um psiquiatra -já não sabia lidar com tanto desrespeito em sala de aula. "O aluno era terrível, mas depois fiquei com pena dele. Quando chamamos os pais e percebemos como são ausentes da vida dos filhos, vemos que o garoto também é uma vítima. O aluno fica em casa abandonado e, muitas vezes, vai para a escola só para comer."

Depois de um ano de terapia, Sirley não abandonou o magistério, apenas trocou de série. Passou a dar aulas no ensino médio, onde, segundo ela, havia uma "vantagem": "Os alunos do ensino médio podem ser mais agressivos verbalmente, mas os do fundamental partem para a agressão física".

Difícil saber o que é mais dramático: a professora descontrolada pedindo socorro ao psiquiatra ou a "vantagem" que ela encontrou ao dar aulas para estudantes mais velhos e apenas ser xingada.

O caso de Sirley faz parte de uma tragédia conhecida quase exclusivamente por especialistas: a epidemia de distúrbios mentais dos professores brasileiros, provocados, entre outros motivos, pela violência e pelas condições de trabalho ruins. Diante desse massacre psicológico, um minuto de silêncio seria uma forma apropriada de comemorar, amanhã, o Dia do Professor.

O cansaço psicológico de Sirley ajuda a explicar uma informação divulgada pela Folha na sexta-feira sobre o desempenho escolar em uma das regiões mais ricas do país. Segundo testes aplicados pelo governo estadual, 37% dos estudantes que concluem o ensino fundamental são totalmente analfabetos. Nada menos do que 72% das escolas nessa região estão em "estado de atenção", devido ao baixo aprendizado. Entende-se como as crianças se tornam adultos incapazes de compreender um texto simples.

O problema dos salários não é o maior dos males - o maior de todos são as condições de trabalho. Uma pesquisa realizada neste ano pela Apeoesp (sindicato dos professores estaduais) levantou, pela ordem, os seguintes problemas: superlotação em sala (73%), falta de material didático (67%), dificuldade de aprendizagem dos alunos (65%), jornada excessiva (64%), violência nas escolas (62%).

De acordo com essa pesquisa, 80% dos professores apresentam o cansaço como um sintoma freqüente, 61% sofrem de nervosismo, 54% padecem com dores de cabeça e 57% têm problemas com a voz. Cerca de 46% deles tiveram diagnóstico confirmado de estresse.

Devemos examinar esse dados com certa atenção porque, primeiro, vêm de um sindicato, que tende a exagerar seus dramas para exigir benefícios à categoria, e, segundo, porque existe uma indústria da licença médica, vista quase como um direito adquirido para compensar tantas adversidades.

Mas quem freqüenta escolas públicas, especialmente na periferia, sabe que, de fato, o professor é massacrado diariamente - assim como seus alunos são massacrados, vítimas de uma série de mazelas que acabam afetando seu aprendizado. O professor é obrigado a lidar com o aluno que não ouve direito porque não sabe limpar direito o ouvido, que sofre de dislexia nem ao menos diagnosticada ou que é vítima da violência ou do descaso doméstico.

O massacre é crônico, de tal forma que, dificilmente, se conseguiria atrair talentos para as escolas públicas - especialmente, para quem mais precisaria desses talentos, que são os mais pobres. Não atraindo, cria-se um círculo vicioso da miséria educacional. O que se nota, além de um absenteísmo enorme, com ou sem justificativa, é uma rotatividade incessante de professores e de diretores.

Pense numa das empresas mais sólidas do Brasil e imagine que os funcionários se comportem como se estivessem numa escola pública - estressados, desmotivados, nem punidos por seus erros, nem premiados por seus acertos. E tudo isso apoiado num forte corporativismo. E, em muitos casos, como mostrou a Folha na semana passada, com cargos de direção escolhidos por políticos. Em quanto tempo essa empresa quebraria?

Oferecer melhores salários certamente ajudaria, a longo prazo, a atrair talentos. Mas, a curto prazo, nesse massacre a que estão submetidos os professores, duvido que funcione. Faz mais sentido oferecer prêmios a escolas que demonstrem mais esforço e ir, aos poucos, criando exemplos, enquanto se melhoram as condições de trabalho, os currículos e os cursos de formação dos docentes.

Nessa briga, não há mocinhos nem bandidos. É, na verdade, um choque de vítimas, visível quando uma professora, desesperada, agride um garoto que passou a vida sendo agredido.

O que dá para dizer, com certeza, é que não se constrói uma nação civilizada com professores enlouquecidos.

PS - Preparei um
dossiê sobre a saúde dos professores e dos alunos. Podem esquecer soluções mágicas para o problema da educação: se não mexermos na questão da saúde tanto de quem dá aula quanto de quem estuda, não vamos muito longe.

Governo veta projeto de lei "Deus na Escola" em São Paulo

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), vetou o projeto de lei aprovado pela Assembléia Legislativa que implementava o ensino religioso como atividade extracurricular e facultativa no ensino fundamental da rede estadual. Como justificativa, Serra afirma que a decisão de incluir religião como disciplina extracurricular cabe às próprias escolas e não pode ser imposta pelo Executivo ou Legislativo.

Em seu veto, o governador cita a Lei de Diretrizes e Bases, que diz que as próprias escolas devem definir a parte diversificada do currículo (as matérias tradicionais, como português e matemática, seguem a base nacional obrigatória). O projeto agora retorna para a Assembléia, onde o veto do governador será discutido e pode ser derrubado caso haja a concordância da maioria absoluta dos deputados.


Fonte: Folha Online

Fórum discute formação de professores

Estão abertas as inscrições para o I Fórum Nacional de Debates sobre a Formação de Professores. Com o tema Ensino a Distância – Novos Espaços de Formação Docente, o evento discutirá a política de formação dos docentes a partir da ampliação de atendimento à demanda por meio do ensino a distância (EAD), além de ser direcionado para professores que fazem uso de tecnologia em sala de aula.

A programação do evento englobará mesas redondas e palestras, abordando a Escassez de Professores no Ensino Médio, os Desafios da Formação Docente para Lecionar em EAD, o Ensino a Distância e a Formação de Docentes, entre outros assuntos. O Fórum será realizado no dia 17 de outubro, no Fiesta Convention Center, em Salvador, promovido pela FTC EAD. Ao final do evento, haverá entrega de certificado aos participantes. As inscrições e a programação do evento estão disponíveis no
site da FTC EAD.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

|VESTIBULAR| Ainda há tempo de se inscrever

UNIVERSIDADES PÚBLICAS

UNEB - Os candidatos terão de 10 a 14 de outubro para acessar a página da Uneb e preencher o formulário para participação no processo seletivo. Por meio do
site, o estudante também deverá imprimir o boleto bancário no valor da taxa de inscrição, que, este ano, será de R$ 80. A instituição, que oferece 102 cursos em 23 cidades do Estado, aplicará as provas em 20 e 21 de janeiro de 2008. Para estas datas, são esperados pela universidade mais de 60 mil candidatos às quase cinco mil vagas.

UESC - Últimos dias para os estudantes interessados em se inscrever no vestibular da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). Os candidatos podem realizar as inscrições até o próximo dia 17. Mais informações pelo
site da universidade.

FACULDADES PRIVADAS

FJA - As Faculdades Jorge Amado estão com as inscrições abertas para o vestibular 2008.2 até 26 de outubro. Os formulários só estão disponíveis pela
internet. Aqueles que efetuarem inscrição até 9 de outubro pagarão R$ 30. Após esta data, a taxa soube para R$ 40. Os boletos podem ser pagos em qualquer agência bancária. As provas estão marcadas para o dia 11 de novembro, das 8h30 às 12h30. A FJA promete o resultado para o dia 14 daquele mês. Outras informações pelo telefone [71] 3206 8046.

FSBA - Os interessados em se inscrever no vestibular da
Faculdade Social da Bahia (FSBA) devem ficar atentos, pois o período de inscrição termina no dia 18 de novembro. A taxa de inscrição é de R$ 40 até o dia 28 deste mês e de R$ 55 após este período. As provas acontecem no dia 24 de novembro.

ÁREA 1 - As inscrições para o processo seletivo da Faculdade Área 1 vão até o próximo dia 19, pela
internet ou na sede da instituição, localizada na Avenida Santiago de Compostela, nº. 216, no bairro do Iguatemi. A taxa de inscrição é de R$ 30 até o dia 15 e R$ 50 até o dia o último dia.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Bahia tem 79 cursos de pós-graduação avaliados pelo MEC

Nenhum dos cursos avaliados, pelo Capes, na Bahia, recebeu a nota máxima; os cursos da Ufba receberam as melhores notas.

O Ministério da Educação, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), divulgou, na última quarta-feira (10), os resultados da avaliação dos cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado), que realiza a cada três anos, em todo País. Nenhum dos cursos avaliados, pelo Capes, na Bahia, recebeu a nota máxima (7). Os quatro cursos que levaram nota 6 são da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

No Estado, dos 79 programas avaliados, dentre instituições públicas (federais e estaduais) e privadas, 35 alcançaram a nota três, 31 ficaram com nota quatro, nove obtiveram a pontuação cinco. A avaliação analisou o desempenho de qualidade relativo ao período 2004/2006. Dentre os programas mais bem conceituados (que alcançaram a nota seis), estão os de saúde coletiva, patologia humana, medicina e saúde e artes cênicas, todos da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Confira a relação completa dos cursos avaliados no site Capes.


*Com informações de A TARDE.

|CURTAS| Agende-se

II Festival Integrado de Cinema Universitário

  • Os interessados em se inscrever no II Festival Integrado de Cinema Universitário têm até 26 de outubro para realizar as inscrições. Os vídeos devem ter, no máximo, 15 minutos de duração, terem sidos produzidos por universitários e se encaixar nas categorias de ficção, documentário, animação ou vídeoclipe/ vídeoarte. O evento é organizado por estudantes de Comunicação UFBA. O festival também visa a fomentar a discussão sobre a produção audiovisual através de palestras, oficinas e mesas-redondas. Todas essas atividades e a projeção dos filmes inscritos serão na Sala de Arte da Ufba entre 7 e 9 de novembro.

II Encontro de Leitura e Literatura da Uneb

  • Entre os dias 25 e 27 de outubro, as práticas de leitura e literatura na educação serão discutidas por especialistas de todo o país durante o II Encontro de Leitura e Literatura da Uneb (Elluneb). Com o tema Entre discursos, práticas e mediações em espaços de leitura e literatura, o evento acontece no auditório das Faculdades Integradas Olga Mettig, em Salvador. As inscrições estão abertas, somente pela internet, até o dia 20. Conferências, mesas redondas, oficinas e mini-cursos marcam a ampla programação do encontro que irá discutir a contribuição da literatura para a formação de identidades em diferentes contextos culturais.

Inscrições para vestibular da Uefs

  • A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) está com as inscrições abertas, até o dia 21 de outubro, para o processo seletivo 2008.1. A inscrição é feita exclusivamente pela internet, exceto para os estudantes contemplados com a isenção total da taxa do vestibular, que devem comparecer no campus no período de 15 a 19 de outubro. São oferecidas 785 vagas em 22 cursos, inclusive Medicina, Farmácia e Engenharia da Computação, oferecidos somente no prosel de início de ano.

sábado, 6 de outubro de 2007

Reposição de aulas ocorre sem fiscalização

Deputados estaduais realizaram, ontem pela amanhã, visitas às escolas da rede do Estado para verificar o andamento da reposição das aulas, em decorrência da última greve dos professores, em 9 de maio deste ano.

Rodrigo Vilas Bôas, do A Tarde/ Colaborou Juracy dos Anjos, do A Tarde.

Quatro das cinco escolas estaduais visitadas neste sábado pelos deputados João Carlos Barcelar (PTN) e Heraldo Rocha (DEM), estavam com as portas fechadas. Não havia professor, aluno nem representantes da direção. A assessoria de comunicação da Secretaria de Educação do Estado não soube informar se, no calendário de reposição das escolas visitadas, este sábado seria dia de aula.

Na contagem dos parlamentares, faltam apenas quatro sábados para terminar o cronograma de reposição de aulas. “A Lei de Diretrizes e Bases exige pelo menos 200 dias letivos, uma das menores cargas horárias do mundo. Pelo visto, esse número não será cumprido”, alertou Barcelar.

Membro da Comissão de Educação da Assembléia Legislativa, Heraldo Rocha criticou a gestão da educação no Estado. “Não existe um processo formal de reposição de aulas na Bahia”, falou o parlamentar, adiantando que a oposição irá representar contra o governo no Ministério Público Estadual (MPE).

Nas escolas Polivalente e Carlos Santana I e II, situadas no Nordeste de Amaralina, só havia um vigilante. O mesmo aconteceu no Colégio Pedro Calmon, que fica na Boca do Rio.

Na opinião do líder comunitário do Nordeste e Santa Cruz, Jorge Lopes, os diretores deveriam se reunir para criar atrativos que incentivassem a ida dos alunos às escolas. “Poderiam acontecer atividades recreativas após as aulas”, sugere.

Dentre os colégios visitados, o único em que estava havendo reposição de aulas – determinação da secretaria após a greve dos professores do ensino médio, que durou 57 dias – foi o Manoel Devoto (Rio Vermelho).

Mesmo assim, havia poucos estudantes e a diretora Raimunda Lúcia Silva não estava presente. “Os alunos dizem que não podem assistir aulas aos sábados porque trabalham”, comentou o professor de matemática Ivan Muccini. Das suas quatro turmas do 2º ano do ensino médio, apenas nove alunos compareceram. A média na instituição é de 50 alunos por turma.

cadeiras – Em uma sala repleta de cadeiras vazias, Roberto Guedes, de 15 anos, era um dos três alunos do Manoel Devoto que assistiam à aula de biologia, mas não estava satisfeito com a situação. “A greve nos prejudicou muito. É importante ter aulas aos sábados, o problema é que tem gente que trabalha e não pode vir”.

O vice-diretor do turno matutino do Manoel Devoto, Josué Amorim, garantiu que todos os professores teriam ido dar aulas. Do total de 27 turmas, apenas 100 alunos estavam na escola.

Outro aluno do colégio, que não quis se identificar, opinou que a reposição nunca funcionou. “É uma verdadeira bagunça. Quando eu venho e não tem aula, volto para casa. Como vêm poucos colegas, os professores nos dispensam”. Segundo ele, a instituição ainda enfrenta outro problema: o sumiço de equipamentos eletrônicos. “Recentemente, desapareceram alguns computadores e até um retroprojetor”.

“Se as escolas públicas fechassem, não faria falta a ninguém. Qual é o papel delas hoje?”, questiona João Bacelar, para quem o governo pecou ao nomear profissionais que “desconheciam o funcionamento da máquina”.

Para ele, além da própria sociedade, entidades como a UNE e a APLB precisam se posicionar contra essa situação. “São alunos carentes. É preciso que tenha aula. É o mínimo. E a secretaria não está fiscalizando isso”.

A coordenadora da gestão descentralizada da secretaria, Euzelinda Dantas, alega que existe uma quantidade de dias estabelecida para a reposição de aulas. “Cada escola tem um calendário próprio, definindo os sábados em que haverá aula”.

Ainda segundo a coordenadora, existem escolas que identificaram a necessidade de prolongamento do ano letivo, por causa da diminuição da freqüência dos estudantes. “Trinta técnicos acompanham a reposição das aulas em Salvador e Região Metropolitana. Cada um é responsável por acompanhar três instituições por turno”.

Euzelinda afirmou que, antes de fazer a visita, os deputados deveriam ter se certificado com a Secretaria de Educação se as escolas estariam repondo aulas ou não. Disse, porém, que não poderia confirmar se estaria havendo reposição de aula nessas escolas porque estava fora do Estado.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

|ESPECIAL| Educação e Pesquisa: uma aliança necessária

"A pesquisa exerce uma função importante, pois complementa a formação teórica de cada estudante na universidade", defende Efraim Souza Neto, estudante universitário.

Produzir conhecimento, e não somente reproduzir é compreendido por acadêmicos e educadores como indispensável para a formação dos estudantes no ambiente universitário. Na opinião de especialistas, a sociedade ainda dá pouca importância à universidade, não percebendo que aquele espaço vai além da graduação porque inclui a pesquisa.

Os dados que se referem à produção do conhecimento no Brasil destacam que as universidades públicas, apesar das dificuldades estruturais, ainda são as principais responsáveis por produzir e discutir a pesquisa científica no país. No entanto, ao se verificar a produção nas Instituições de Ensino Superior (IES) privadas, o estudante se depara com outra realidade: poucos grupos de pesquisa, quando existentes; falta de professores e de estrutura que propicie esse desenvolvimento; além de poucos investimentos.

"As dificuldades hoje enfrentadas na produção do conhecimento não se restringem às instituições privadas, porque a realidade de escassez de recursos financeiros e de estrutura são comuns também nas universidades públicas", ressalta o professor universitário Maurício Mattos. A pesquisa, além de ser fundamental para o desenvolvimento local, também é relevante para a formação dos estudantes. Essa é a conclusão de diversos especialistas.

De acordo com acadêmicos, o Ministério da Educação (MEC) tem investido pouco em pesquisa. "Do orçamento das universidades federais, a maior parte dos recursos se destina à manutenção e pagamento de pessoal. O dinheiro da pesquisa vem mesmo dos órgãos fomentadores como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre outros. É através deles que os pesquisadores conseguem desenvolver seus trabalhos".

MUDANÇAS ESPERADAS

Segundo estudos desenvolvidos recentemente para verificar a produção científica nas universidades e sua importância para o crescimento do país, o pesquisador e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Carlos Roberto Appoloni diz: "o pesquisador cada vez mais está sendo chamado a atuar também na divulgação científica e outras formas de educação científica da população.

Na velocidade com que a ciência e a tecnologia têm impregnado a vida contemporânea, determinando inclusive a riqueza e o poder das nações, a educação científica está subindo cada vez mais na pauta de prioridades em todos os países do mundo". Para ele, o envolvimento dos pesquisadores brasileiros com a educação científica é ainda mais crucial, pois significa o desenvolvimento do país.

A importância da pesquisa cientifica na graduação é destacada também por inúmeros estudantes e professores universitários. Um exemplo disso é o estudante Efraim Batista de Souza Neto, que reconhece a relevância dessa ação em sua formação. "A pesquisa exerce uma função importante, pois complementa a formação teórica de cada estudante na universidade. Além disso, a pesquisa incentiva a formação dos profissionais acadêmicos de amanhã, e sua iniciação nos ajuda na formulação dos projetos de conclusão de curso e pós-graduações", defende Souza Neto.

Posição semelhante é defendida pelo professor e coordenador do Núcleo de Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Raphael Rodrigues Vieira. Para ele, "a pesquisa científica é importante para o estudantes porque é uma forma deles complementarem a sua formação na graduação e também de iniciarem o seu trabalho de pesquisa para uma futura pós e níveis acadêmicos mais avançados. Além de serem fundamentais para a formação intelectual dos discentes, porque com a pesquisa eles estão agregando novos conhecimentos dentro da graduação", conclui Vieira.

ENTREVISTA
Produção de conhecimento: cada vez mais escasso

"No Brasil ainda existem restrições para o financiamento da pesquisa em IES particulares", afirma Willian Giozza.

Em entrevista concedida ao repórter Juracy dos Anjos, o professor e coordenador do núcleo de Pesquisa e Extensão da Universidade Salvador (Unifacs), William Giozza fala da importância da produção do conhecimento para a formação dos estudantes e para o desenvolvimento do Brasil. Além disso, ele ressalta que os investimentos governamentais na área de pesquisa científica, principalmente para as instituições de ensino privadas, não são suficientes.

"Nos países desenvolvidos como, por exemplo, os Estados Unidos, esses investimentos são realizados pelo Estado em parceria com as universidades (públicas ou privadas, indistintamente) e empresas", destaca. No Brasil, de acordo com o coordenador, ainda existem restrições para o financiamento da pesquisa em IES particulares. Confira!

Juracy dos Anjos - Qual a importância da produção do conhecimento (da pesquisa científica) para a formação do estudante e do país?

William Giozza - O estudante que participa do processo de produção do conhecimento (isto é, da pesquisa científica) enriquece sua formação acadêmica, seja pelo exercício da metodologia de investigação científica seja pelos novos conhecimentos adquiridos. Além disso, a iniciação científica é um processo dinâmico que permite ampliar a visão pessoal e profissional do estudante. Já para o país, é fundamental desenvolver sua indústria do conhecimento. Participar ativamente da produção de conhecimento e do desenvolvimento tecnológico é hoje uma necessidade para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

De acordo com especialistas, existe atualmente uma crescente reprodução do conhecimento (e pouca produção) pelas instituições privadas. Qual(is) a(s) interferência(s) que esse tipo de postura pode trazer para a formação do estudante?

O ganho para os estudantes de instituições que desenvolvem pesquisa é bastante claro. Além da oportunidade de participar do processo de produção de conhecimento, eles podem "beber" diretamente na fonte do saber.


Historicamente as universidades públicas se encarregaram, e se encarregam até hoje, da produção do conhecimento no Brasil, sendo que atualmente existem mais instituições privadas do que públicas. Como o senhor avalia esta situação?

Poucas Instituições Ensino Superior particulares usufruiram dos grandes investimentos públicos em recursos humanos e em laboratórios realizados nos anos 70 no Brasil. Mas algumas delas (e.g., PUCs) são reconhecidas hoje como centros de excelência de pesquisa em áreas específicas do conhecimento e seus alunos gozam dessa reputação.

Mais recentemente, outras IES particulares começaram a investir na formação de grupos de pesquisa e na oferta de programas de mestrado e doutorado. É o caso, por exemplo, da Universidade Salvador (Unifacs), que na Bahia é pioneira e referência em áreas do conhecimento como a de informática e a de energia. Hoje em dia o crescimento relativo do setor das IES particulares em termos de cursos de pós-graduação (mestrados e doutorados) já supera ao das públicas.


Quais são os principais fatores que dificultam o investimento na área de pesquisa científica nas IES privadas?

A pesquisa científica exige muitas vezes investimentos massivos em infra-estrutura laboratorial e em recursos humanos qualificados. Nos países desenvolvidos como, por exemplo, os Estados Unidos, esses investimentos são realizados pelo Estado em parceria com as universidades (públicas ou privadas, indistintamente) e empresas. No Brasil ainda existem restrições para o financiamento da pesquisa em IES particulares. Por exemplo, existem editais públicos do MCT/CNPq que discriminam isso claramente.

No nosso entendimento os resultados da pesquisa e os pesquisadores formados nas IES particulares contribuem para o desenvolvimento do país da mesma maneira do que os formados pelas IES públicas. Nesse sentido, acreditamos que os pesquisadores e os alunos envolvidos com atividades de pesquisa nas IES particulares deveriam poder concorrer pelo mérito aos editais de fomento à pesquisa com recursos públicos. Felizmente, aqui na Bahia, os editais da FAPESB, nossa agência de fomento em C,T&I concentram-se na avaliação da qualidade da pesquisa a ser financiada, não discriminando a personalidade jurídica da IES.

A partir de que período (semestre) os estudantes podem começar a fazer pesquisa?

O estudante pode começar a pesquisar desde o seu ingresso na instituição. Para isso, precisa identificar um tema de interesse e um orientador. Em geral, os dois primeiros semestres na instituição permitirão ao aluno conhecer melhor as áreas de pesquisa e os professores/pesquisadores disponíveis para orientação. Em algumas áreas do conhecimento, pode ainda ser necessário atender primeiro a alguns pré-requisitos antes de poder se engajar num projeto de pesquisa, como, por exemplo, ter cursado previamente uma ou outra disciplina com práticas laboratoriais.

Entrar ou incentivar a formação de grupos de estudos é uma boa iniciativa para os estudantes e para a instituição?

Sim. A pesquisa moderna é feita em equipe e cada vez mais com o viés multidisciplinar, de modo que o incentivo à prática de estudos em grupos multidisciplinares tende a ser muito proveitosa. Produzir conhecimento (pesquisa científica) é essencial para uma faculdade se transformar em universidade.

Em Salvador, poucas IES privadas conseguiram tal fato. Como o senhor analisa essa situação e qual a importância de uma faculdade se reconhecida como universidade?

Para ser reconhecida como universidade, uma instituição de ensino superior deve desenvolver atividades de pesquisa e de formação em nível de mestrado e doutorado. Isso exige investimentos em termos de recursos humanos qualificados ( e.g., doutores) e de infra-estrutura que não são custeados pelas mensalidades dos alunos. Portanto, além do aporte inicial de recursos próprios, é fundamental que a instituição invista em parcerias com empresas e organizações interessadas nos mestres e doutores que ela formará, bem como nos resultados de suas pesquisas.

Além disso, conforme dissemos anteriormente, continua sendo importante para a sustentabilidade das atividades de pesquisa no Brasil, o apoio das agências de fomento governamentais em nível local, regional e nacional. Como universidade, a Unifacs pode contribuir para o desenvolvimento crescente da produção científica e tecnológica do Brasil e da nossa região, um requisito básico para a inserção na moderna economia mundial de base tecnológica, que constitui a infra-estrutura da Sociedade do Conhecimento.

Por outro lado, a Unifacs entende também que as sua atividades de pesquisa e de Iniciação Científica proporcionam um horizonte mais amplo para a formação individual dos seus alunos ao agregar valores associados ao método científico vivenciado, tais como: capacidade de organização, espírito crítico e criatividade, fatores estes que podem ser diferenciais competitivos e bastante benéficos para qualquer profissão.