sexta-feira, 5 de outubro de 2007

|ESPECIAL| Educação e Pesquisa: uma aliança necessária

"A pesquisa exerce uma função importante, pois complementa a formação teórica de cada estudante na universidade", defende Efraim Souza Neto, estudante universitário.

Produzir conhecimento, e não somente reproduzir é compreendido por acadêmicos e educadores como indispensável para a formação dos estudantes no ambiente universitário. Na opinião de especialistas, a sociedade ainda dá pouca importância à universidade, não percebendo que aquele espaço vai além da graduação porque inclui a pesquisa.

Os dados que se referem à produção do conhecimento no Brasil destacam que as universidades públicas, apesar das dificuldades estruturais, ainda são as principais responsáveis por produzir e discutir a pesquisa científica no país. No entanto, ao se verificar a produção nas Instituições de Ensino Superior (IES) privadas, o estudante se depara com outra realidade: poucos grupos de pesquisa, quando existentes; falta de professores e de estrutura que propicie esse desenvolvimento; além de poucos investimentos.

"As dificuldades hoje enfrentadas na produção do conhecimento não se restringem às instituições privadas, porque a realidade de escassez de recursos financeiros e de estrutura são comuns também nas universidades públicas", ressalta o professor universitário Maurício Mattos. A pesquisa, além de ser fundamental para o desenvolvimento local, também é relevante para a formação dos estudantes. Essa é a conclusão de diversos especialistas.

De acordo com acadêmicos, o Ministério da Educação (MEC) tem investido pouco em pesquisa. "Do orçamento das universidades federais, a maior parte dos recursos se destina à manutenção e pagamento de pessoal. O dinheiro da pesquisa vem mesmo dos órgãos fomentadores como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre outros. É através deles que os pesquisadores conseguem desenvolver seus trabalhos".

MUDANÇAS ESPERADAS

Segundo estudos desenvolvidos recentemente para verificar a produção científica nas universidades e sua importância para o crescimento do país, o pesquisador e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Carlos Roberto Appoloni diz: "o pesquisador cada vez mais está sendo chamado a atuar também na divulgação científica e outras formas de educação científica da população.

Na velocidade com que a ciência e a tecnologia têm impregnado a vida contemporânea, determinando inclusive a riqueza e o poder das nações, a educação científica está subindo cada vez mais na pauta de prioridades em todos os países do mundo". Para ele, o envolvimento dos pesquisadores brasileiros com a educação científica é ainda mais crucial, pois significa o desenvolvimento do país.

A importância da pesquisa cientifica na graduação é destacada também por inúmeros estudantes e professores universitários. Um exemplo disso é o estudante Efraim Batista de Souza Neto, que reconhece a relevância dessa ação em sua formação. "A pesquisa exerce uma função importante, pois complementa a formação teórica de cada estudante na universidade. Além disso, a pesquisa incentiva a formação dos profissionais acadêmicos de amanhã, e sua iniciação nos ajuda na formulação dos projetos de conclusão de curso e pós-graduações", defende Souza Neto.

Posição semelhante é defendida pelo professor e coordenador do Núcleo de Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Raphael Rodrigues Vieira. Para ele, "a pesquisa científica é importante para o estudantes porque é uma forma deles complementarem a sua formação na graduação e também de iniciarem o seu trabalho de pesquisa para uma futura pós e níveis acadêmicos mais avançados. Além de serem fundamentais para a formação intelectual dos discentes, porque com a pesquisa eles estão agregando novos conhecimentos dentro da graduação", conclui Vieira.

ENTREVISTA
Produção de conhecimento: cada vez mais escasso

"No Brasil ainda existem restrições para o financiamento da pesquisa em IES particulares", afirma Willian Giozza.

Em entrevista concedida ao repórter Juracy dos Anjos, o professor e coordenador do núcleo de Pesquisa e Extensão da Universidade Salvador (Unifacs), William Giozza fala da importância da produção do conhecimento para a formação dos estudantes e para o desenvolvimento do Brasil. Além disso, ele ressalta que os investimentos governamentais na área de pesquisa científica, principalmente para as instituições de ensino privadas, não são suficientes.

"Nos países desenvolvidos como, por exemplo, os Estados Unidos, esses investimentos são realizados pelo Estado em parceria com as universidades (públicas ou privadas, indistintamente) e empresas", destaca. No Brasil, de acordo com o coordenador, ainda existem restrições para o financiamento da pesquisa em IES particulares. Confira!

Juracy dos Anjos - Qual a importância da produção do conhecimento (da pesquisa científica) para a formação do estudante e do país?

William Giozza - O estudante que participa do processo de produção do conhecimento (isto é, da pesquisa científica) enriquece sua formação acadêmica, seja pelo exercício da metodologia de investigação científica seja pelos novos conhecimentos adquiridos. Além disso, a iniciação científica é um processo dinâmico que permite ampliar a visão pessoal e profissional do estudante. Já para o país, é fundamental desenvolver sua indústria do conhecimento. Participar ativamente da produção de conhecimento e do desenvolvimento tecnológico é hoje uma necessidade para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

De acordo com especialistas, existe atualmente uma crescente reprodução do conhecimento (e pouca produção) pelas instituições privadas. Qual(is) a(s) interferência(s) que esse tipo de postura pode trazer para a formação do estudante?

O ganho para os estudantes de instituições que desenvolvem pesquisa é bastante claro. Além da oportunidade de participar do processo de produção de conhecimento, eles podem "beber" diretamente na fonte do saber.


Historicamente as universidades públicas se encarregaram, e se encarregam até hoje, da produção do conhecimento no Brasil, sendo que atualmente existem mais instituições privadas do que públicas. Como o senhor avalia esta situação?

Poucas Instituições Ensino Superior particulares usufruiram dos grandes investimentos públicos em recursos humanos e em laboratórios realizados nos anos 70 no Brasil. Mas algumas delas (e.g., PUCs) são reconhecidas hoje como centros de excelência de pesquisa em áreas específicas do conhecimento e seus alunos gozam dessa reputação.

Mais recentemente, outras IES particulares começaram a investir na formação de grupos de pesquisa e na oferta de programas de mestrado e doutorado. É o caso, por exemplo, da Universidade Salvador (Unifacs), que na Bahia é pioneira e referência em áreas do conhecimento como a de informática e a de energia. Hoje em dia o crescimento relativo do setor das IES particulares em termos de cursos de pós-graduação (mestrados e doutorados) já supera ao das públicas.


Quais são os principais fatores que dificultam o investimento na área de pesquisa científica nas IES privadas?

A pesquisa científica exige muitas vezes investimentos massivos em infra-estrutura laboratorial e em recursos humanos qualificados. Nos países desenvolvidos como, por exemplo, os Estados Unidos, esses investimentos são realizados pelo Estado em parceria com as universidades (públicas ou privadas, indistintamente) e empresas. No Brasil ainda existem restrições para o financiamento da pesquisa em IES particulares. Por exemplo, existem editais públicos do MCT/CNPq que discriminam isso claramente.

No nosso entendimento os resultados da pesquisa e os pesquisadores formados nas IES particulares contribuem para o desenvolvimento do país da mesma maneira do que os formados pelas IES públicas. Nesse sentido, acreditamos que os pesquisadores e os alunos envolvidos com atividades de pesquisa nas IES particulares deveriam poder concorrer pelo mérito aos editais de fomento à pesquisa com recursos públicos. Felizmente, aqui na Bahia, os editais da FAPESB, nossa agência de fomento em C,T&I concentram-se na avaliação da qualidade da pesquisa a ser financiada, não discriminando a personalidade jurídica da IES.

A partir de que período (semestre) os estudantes podem começar a fazer pesquisa?

O estudante pode começar a pesquisar desde o seu ingresso na instituição. Para isso, precisa identificar um tema de interesse e um orientador. Em geral, os dois primeiros semestres na instituição permitirão ao aluno conhecer melhor as áreas de pesquisa e os professores/pesquisadores disponíveis para orientação. Em algumas áreas do conhecimento, pode ainda ser necessário atender primeiro a alguns pré-requisitos antes de poder se engajar num projeto de pesquisa, como, por exemplo, ter cursado previamente uma ou outra disciplina com práticas laboratoriais.

Entrar ou incentivar a formação de grupos de estudos é uma boa iniciativa para os estudantes e para a instituição?

Sim. A pesquisa moderna é feita em equipe e cada vez mais com o viés multidisciplinar, de modo que o incentivo à prática de estudos em grupos multidisciplinares tende a ser muito proveitosa. Produzir conhecimento (pesquisa científica) é essencial para uma faculdade se transformar em universidade.

Em Salvador, poucas IES privadas conseguiram tal fato. Como o senhor analisa essa situação e qual a importância de uma faculdade se reconhecida como universidade?

Para ser reconhecida como universidade, uma instituição de ensino superior deve desenvolver atividades de pesquisa e de formação em nível de mestrado e doutorado. Isso exige investimentos em termos de recursos humanos qualificados ( e.g., doutores) e de infra-estrutura que não são custeados pelas mensalidades dos alunos. Portanto, além do aporte inicial de recursos próprios, é fundamental que a instituição invista em parcerias com empresas e organizações interessadas nos mestres e doutores que ela formará, bem como nos resultados de suas pesquisas.

Além disso, conforme dissemos anteriormente, continua sendo importante para a sustentabilidade das atividades de pesquisa no Brasil, o apoio das agências de fomento governamentais em nível local, regional e nacional. Como universidade, a Unifacs pode contribuir para o desenvolvimento crescente da produção científica e tecnológica do Brasil e da nossa região, um requisito básico para a inserção na moderna economia mundial de base tecnológica, que constitui a infra-estrutura da Sociedade do Conhecimento.

Por outro lado, a Unifacs entende também que as sua atividades de pesquisa e de Iniciação Científica proporcionam um horizonte mais amplo para a formação individual dos seus alunos ao agregar valores associados ao método científico vivenciado, tais como: capacidade de organização, espírito crítico e criatividade, fatores estes que podem ser diferenciais competitivos e bastante benéficos para qualquer profissão.

Uneb prorroga prazo de inscrição para vestibular

A universidade espera que mais de 60 mil estudantes participem do processo seletivo 2008. Os candidatos que se autodeclarem índios, assim como os afrodescendentes, também terão direito ao sistema de reserva de vagas.

Foram prorrogadas, até dia 14 de outubro, as inscrições para o vestibular 2008 da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Os candidatos poderão fazer a inscrição, exclusivamente, pela
internet. O vestibulando deve preencher a ficha de inscrição e o questionário socioeconômico para depois imprimir o boleto bancário referente à taxa no valor de R$80. A universidade espera receber mais de 60 mil inscrições.

A UNEB oferece 4,9 mil vagas na capital e em 23 municípios do interior onde tem campi. As provas acontecem nos dias 20 e 21 de janeiro de 2008, com início das aulas previsto para junho.

Para tirar dúvidas sobre os procedimentos e para realizar inscrições de candidatos sem acesso a internet, a universidade disponibilizou salas de atendimento em todas as suas unidades. Em Salvador, o posto de atendimento fica localizado no Infocentro da universidade, no Cabula. Os candidatos também podem tirar dúvidas consultando o
Manual do Candidato no site da instituição.

AÇÃO AFIRMATIVA

Pioneira na implantação do sistema de cotas, a Uneb implantará um novo programa de ações afirmativas para ampliar a democratização do ensino superior. Segundo o site da instituição, desde 2002, 40% das vagas da universidade são destinadas para estudantes negros vindos de escolas públicas. Este ano, os estudantes que se autodeclaram índios também terão direito ao beneficio, sendo reservado 5% das vagas.

Segundo Romilson da Silva Sousa, da Comissão de Ações Afirmativas da Uneb, “a intenção da universidade não é civilizar o índio e sim, promover oportunidades de inclusão social que respeitem suas peculiaridades culturais”.

A universidade também distribuiu cerca de 8 mil vagas para estudantes pobres que solicitaram a isenção da taxa de inscrição no processo seletivo. Os estudantes do projeto Universidade Para Todos também tiveram direito a descontos de 50% na inscrição.