Encarada por muitos como um estado de incapacidade, a deficiência mental (em especial a Síndrome de Down) está, aos poucos, sendo explicada por educadores e especialistas, que demonstram o contrário do popularmente dito.
Um exemplo disso são os estudos de José Salomão Schwartzman, brasileiro especialista em Neuropediatra. Segundo ele, "o fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou demonstrar conduta imatura em determinada idade, comparativamente a outras com idêntica condição genética, não significa impedimento para adquiri-la mais tarde".
Apesar da constatação científica e dos reforços para tal explicação, a disseminação destes estudos entre o grande público ainda é muito incipiente. E na grande maioria das vezes a falta de conhecimento adequado da doença resulta na geração de preconceito e discriminação, que podem ser verificadas com a dificuldade de inserção dos portadores de necessidades especiais nas escolas regulares.
"O maior obstáculo para a inclusão dos nossos filhos na sociedade é o preconceito. As pessoas não entendem o que é essa necessidade e acabam discriminando", comenta Elza Silva Batista, mãe de Jeriane Maria, de 12 anos – portadora de deficiência mental.
Mesmo com a criação do Programa de Educação Inclusiva, desenvolvido pela secretaria de Educação Especial do governo federal, a inclusão de pessoas com deficiência mental ainda se configura como um problema grave e que precisa ser superado. Poucas escolas regulares que aceitam os portadores de deficiência; ausência de um sistema adequado às suas necessidades e preparo de professores; escassez de recursos e até mesmo a resistência familiar são alguns dos desafios enfrentados para a inclusão social dos portadores da deficiência mental na Bahia.
Dificuldades marcam a inserção na educação regular
O direito à educação é premissa fundamental para o desenvolvimento de um país. No entanto, muitos são os obstáculos enfrentados por portadores de deficiência mental no Brasil, em especial a Síndrome de Down, na busca de uma educação que reconheça e potencialize suas habilidades.
"A criança com necessidades especiais apresenta muitas debilidades e limitações, portanto o trabalho pedagógico deve primordialmente respeitar o ritmo da criança e propiciar-lhe um estímulo adequado para o desenvolvimento de suas habilidades e competências, de acordo com as necessidades específicas de cada criança". Esta observação é feita por Luciara Regina Piauí de Oliveira, terapeuta ocupacional que desenvolve trabalho de acompanhamento de crianças com a síndrome.
Na opinião de Eduardo Barbosa, presidente da Federação Nacional das Apaes, é preciso levar a educação para os indivíduos, de acordo com suas diferenças, potencializando e valorizando as inteligências múltiplas. "Antigamente, a escola trabalhava apenas com um tipo de inteligência – que podia ser matemática ou lingüística. E muitas vezes as pessoas com deficiência, principalmente intelectual, tinham dificuldade de acompanhar estas exigências curriculares.
Hoje as escolas terão que se adaptar, desenvolvendo as inteligências múltiplas, ou seja, habilidades diferenciadas de acordo com o potencial de cada um". Ele acrescenta ainda que isso talvez seja o desafio maior que os professores atualmente estão enfrentando para sair da padronização do ensino, criando uma educação que possa valorizar as potencialidades distintas.
Conscientização - A Federação das Apaes do Estado da Bahia já desenvolve um trabalho no sentido de conscientizar, capacitando e treinando professores de escolas regulares públicas e privadas para o atendimento aos portadores de deficiência mental. A Apae de Salvador é um exemplo disso, atuando em dez escolas.
Para Itana Sena Lima, coordenadora do Programa de Inclusão Escolar, "o programa é mais um instrumento para auxiliar os professores na inclusão de pessoas com necessidades especiais na escola comum, como previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB".
Por meio das palestras, os professores são orientados a compreender a deficiência com o objetivo de evitar a discriminação e o preconceito cometido contra às pessoas com necessidades especiais. "O trabalho é desenvolvido, preliminarmente, com o levantamento dos alunos que já estavam matriculados nas escolas regulares. Depois, agendamos visitas para coletar dados sobre o aprendizado destes estudantes especiais e sobre as necessidades referentes às práticas dos professores, para logo em seguida desenvolvermos palestras com os docentes", descreve.
A inclusão das pessoas com necessidades especiais nas escolas é defendida por educadores como de extrema importância para a socialização destes jovens. Até porque, as escolas especiais só conseguem atender 2% dos deficientes no Brasil, segundo dados da Federação Nacional das Apaes.
O vídeo a seguir, apesar de retratar o esforço e capacidade dos portadores de Síndrome de Down no esporte, serve para mostrar que na educação, assim como em vários outros segmentos, a única coisa que diferencia uma pessoa dita "normal" do portador de defiência mental é o preconceito. Veja e confira.
*Acompanhe, também, no blog de Paloma Nogueira, a entrevista com a professora universitária e escritora,Ivanê Dantas, que vem desenvolvendo projetos de pesquisa direcionado à inclusão das crianças com deficiência visual nas escolas