Vinte e sete das 108 turmas do Colégio Estadual da Bahia (Central), em Nazaré, serão extintas e 280 alunos remanejados para outras salas. O processo de “enturmação” é resultado da evasão de 1.041 estudantes. As causas para essa debandada de uma tradicional escola da Bahia são desconhecidas. Um dos motivos aventados é a matrícula ter sido superestimada.
O diretor da unidade, Jorge Nunes, acredita que o número elevado pode ser resultante da inscrição de pessoas que pretendiam apenas obter benefícios exclusivos para estudantes ou ter acesso a estágio remunerado. Mais essa mazela na educação do Estado foi detectada pelo diretor do Central, que assumiu o cargo em julho. Ele optou por oficializar a “enturmação”, que já vem ocorrendo na prática, visto que há turmas freqüentadas por pouco mais de cinco alunos.
O vice-diretor do Central, Tupinan Costa Dantas, garante que a reestruturação – “enturmação” – é uma movimentação que vai viabilizar aulas para os alunos. “A proposta da direção é que os professores que ficarem sem turma apresentem um programa com projetos paralelos de ensino (aulas de reforço escolar, atividades extras, projetos científicos, recuperação paralela, entre outros)”, declara.
A direção do Central é contra deixar a escola na mesma situação que vinha se estendendo há tempos e, por isso, quer efetivar as mudanças. “Não é correto deixar para discutir a situação só no ano que vem. Se nunca foi tomada uma decisão, agora tomamos. Não se arruma a casa sem levantar poeira”, diz o diretor. Para Nunes, não é decente deixar os alunos sem aulas até o fim do ano letivo. Já o vice-diretor avalia que a ação é positiva para resolver os problemas internos e emergenciais do colégio.
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Escola de personagens célebres
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Juracy dos Anjos, do A TARDE
Quem circula pelos corredores e prédios do Colégio Central, em Nazaré, ou até mesmo em frente a ele, muitas vezes não se dá conta da sua importância histórica. Um dos centros educacionais mais antigos da Bahia, o colégio, criado em 1836, começou a funcionar como Liceu Provincial da Bahia, logo no ano seguinte à sua fundação.
Com a reforma do sistema pedagógico, feito pelo governo republicano, em 1890, o Liceu transformou-se em Instituto Oficial de Ensino Secundário.Neste período, a escola passava a exercer o papel de transformar súditos em cidadãos. As transformações vividas pelo Colégio Central não pararam por aí. Em 1896, o Instituto é renomeado Ginásio da Bahia e equiparado ao Colégio Pedro II, passando a ser uma das referências de excelência em ensino do Brasil na época.
Em 1942, outra mudança de nome, mas esta agora definitiva: Colégio Estadual da Bahia. Três anos depois, a quantidade de estudantes aumenta no Estado e são criadas seções de ensino. O Colégio Estadual é, então, designado seção Central, daí o nome pelo qual ficou mais conhecido até os dias atuais.
CÉLEBRES – Outro fator importante que marca a história do Central é a passagem de estudantes célebres. Entre eles: o presidente da Petrobras José Sérgio Gabriele, o cantor Raul Seixas, os ministros Geddel Vieira Lima, Gilberto Gil, o ex-ministro Waldir Pires, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, o ex-secretário de Educação Eraldo Tinôco, a deputada Lídice da Mata, o escritor João Ubaldo Ribeiro, o cineasta Glauber Rocha, o educador Cid Teixeira e o mártir da resistência à ditadura e poeta Carlos Marighela.
Segundo o diretor do Colégio Central, Jorge Nunes, existe, no acervo da instituição, uma prova de física do poeta Marighela respondida toda em versos. Ele destaca que além da prova, o acervo histórico do colégio é possuidor de grandes títulos."Por causa disso, o colégio está tentando institucionalizar o acervo e criar um memorial, para facilitar o acesso", afirma o educador.