sábado, 6 de outubro de 2007

Reposição de aulas ocorre sem fiscalização

Deputados estaduais realizaram, ontem pela amanhã, visitas às escolas da rede do Estado para verificar o andamento da reposição das aulas, em decorrência da última greve dos professores, em 9 de maio deste ano.

Rodrigo Vilas Bôas, do A Tarde/ Colaborou Juracy dos Anjos, do A Tarde.

Quatro das cinco escolas estaduais visitadas neste sábado pelos deputados João Carlos Barcelar (PTN) e Heraldo Rocha (DEM), estavam com as portas fechadas. Não havia professor, aluno nem representantes da direção. A assessoria de comunicação da Secretaria de Educação do Estado não soube informar se, no calendário de reposição das escolas visitadas, este sábado seria dia de aula.

Na contagem dos parlamentares, faltam apenas quatro sábados para terminar o cronograma de reposição de aulas. “A Lei de Diretrizes e Bases exige pelo menos 200 dias letivos, uma das menores cargas horárias do mundo. Pelo visto, esse número não será cumprido”, alertou Barcelar.

Membro da Comissão de Educação da Assembléia Legislativa, Heraldo Rocha criticou a gestão da educação no Estado. “Não existe um processo formal de reposição de aulas na Bahia”, falou o parlamentar, adiantando que a oposição irá representar contra o governo no Ministério Público Estadual (MPE).

Nas escolas Polivalente e Carlos Santana I e II, situadas no Nordeste de Amaralina, só havia um vigilante. O mesmo aconteceu no Colégio Pedro Calmon, que fica na Boca do Rio.

Na opinião do líder comunitário do Nordeste e Santa Cruz, Jorge Lopes, os diretores deveriam se reunir para criar atrativos que incentivassem a ida dos alunos às escolas. “Poderiam acontecer atividades recreativas após as aulas”, sugere.

Dentre os colégios visitados, o único em que estava havendo reposição de aulas – determinação da secretaria após a greve dos professores do ensino médio, que durou 57 dias – foi o Manoel Devoto (Rio Vermelho).

Mesmo assim, havia poucos estudantes e a diretora Raimunda Lúcia Silva não estava presente. “Os alunos dizem que não podem assistir aulas aos sábados porque trabalham”, comentou o professor de matemática Ivan Muccini. Das suas quatro turmas do 2º ano do ensino médio, apenas nove alunos compareceram. A média na instituição é de 50 alunos por turma.

cadeiras – Em uma sala repleta de cadeiras vazias, Roberto Guedes, de 15 anos, era um dos três alunos do Manoel Devoto que assistiam à aula de biologia, mas não estava satisfeito com a situação. “A greve nos prejudicou muito. É importante ter aulas aos sábados, o problema é que tem gente que trabalha e não pode vir”.

O vice-diretor do turno matutino do Manoel Devoto, Josué Amorim, garantiu que todos os professores teriam ido dar aulas. Do total de 27 turmas, apenas 100 alunos estavam na escola.

Outro aluno do colégio, que não quis se identificar, opinou que a reposição nunca funcionou. “É uma verdadeira bagunça. Quando eu venho e não tem aula, volto para casa. Como vêm poucos colegas, os professores nos dispensam”. Segundo ele, a instituição ainda enfrenta outro problema: o sumiço de equipamentos eletrônicos. “Recentemente, desapareceram alguns computadores e até um retroprojetor”.

“Se as escolas públicas fechassem, não faria falta a ninguém. Qual é o papel delas hoje?”, questiona João Bacelar, para quem o governo pecou ao nomear profissionais que “desconheciam o funcionamento da máquina”.

Para ele, além da própria sociedade, entidades como a UNE e a APLB precisam se posicionar contra essa situação. “São alunos carentes. É preciso que tenha aula. É o mínimo. E a secretaria não está fiscalizando isso”.

A coordenadora da gestão descentralizada da secretaria, Euzelinda Dantas, alega que existe uma quantidade de dias estabelecida para a reposição de aulas. “Cada escola tem um calendário próprio, definindo os sábados em que haverá aula”.

Ainda segundo a coordenadora, existem escolas que identificaram a necessidade de prolongamento do ano letivo, por causa da diminuição da freqüência dos estudantes. “Trinta técnicos acompanham a reposição das aulas em Salvador e Região Metropolitana. Cada um é responsável por acompanhar três instituições por turno”.

Euzelinda afirmou que, antes de fazer a visita, os deputados deveriam ter se certificado com a Secretaria de Educação se as escolas estariam repondo aulas ou não. Disse, porém, que não poderia confirmar se estaria havendo reposição de aula nessas escolas porque estava fora do Estado.