quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Desafios e conquistas para uma educação inclusiva

"Um dos grandes objetivos da educação infantil é fazer com que a criança seja mais autônoma na sala de aula. Adquirir autonomia é interiorizar regras da vida social para que se possa conduzir sem incomodar o restante do grupo. E essa adequação social é condição sine qua non « sem a qual não há» para que seja integrada" (José Salomão Schwartzman, 1999).

Encarada por muitos como um estado de incapacidade, a deficiência mental (em especial a Síndrome de Down) está, aos poucos, sendo explicada por educadores e especialistas, que demonstram o contrário do popularmente dito.

Um exemplo disso são os estudos de José Salomão Schwartzman, brasileiro especialista em Neuropediatra. Segundo ele, "o fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou demonstrar conduta imatura em determinada idade, comparativamente a outras com idêntica condição genética, não significa impedimento para adquiri-la mais tarde".

Apesar da constatação científica e dos reforços para tal explicação, a disseminação destes estudos entre o grande público ainda é muito incipiente. E na grande maioria das vezes a falta de conhecimento adequado da doença resulta na geração de preconceito e discriminação, que podem ser verificadas com a dificuldade de inserção dos portadores de necessidades especiais nas escolas regulares.

"O maior obstáculo para a inclusão dos nossos filhos na sociedade é o preconceito. As pessoas não entendem o que é essa necessidade e acabam discriminando", comenta Elza Silva Batista, mãe de Jeriane Maria, de 12 anos – portadora de deficiência mental.

Mesmo com a criação do Programa de Educação Inclusiva, desenvolvido pela secretaria de Educação Especial do governo federal, a inclusão de pessoas com deficiência mental ainda se configura como um problema grave e que precisa ser superado. Poucas escolas regulares que aceitam os portadores de deficiência; ausência de um sistema adequado às suas necessidades e preparo de professores; escassez de recursos e até mesmo a resistência familiar são alguns dos desafios enfrentados para a inclusão social dos portadores da deficiência mental na Bahia.

Dificuldades marcam a inserção na educação regular

O direito à educação é premissa fundamental para o desenvolvimento de um país. No entanto, muitos são os obstáculos enfrentados por portadores de deficiência mental no Brasil, em especial a Síndrome de Down, na busca de uma educação que reconheça e potencialize suas habilidades.

"A criança com necessidades especiais apresenta muitas debilidades e limitações, portanto o trabalho pedagógico deve primordialmente respeitar o ritmo da criança e propiciar-lhe um estímulo adequado para o desenvolvimento de suas habilidades e competências, de acordo com as necessidades específicas de cada criança". Esta observação é feita por Luciara Regina Piauí de Oliveira, terapeuta ocupacional que desenvolve trabalho de acompanhamento de crianças com a síndrome.

Na opinião de Eduardo Barbosa, presidente da Federação Nacional das Apaes, é preciso levar a educação para os indivíduos, de acordo com suas diferenças, potencializando e valorizando as inteligências múltiplas. "Antigamente, a escola trabalhava apenas com um tipo de inteligência – que podia ser matemática ou lingüística. E muitas vezes as pessoas com deficiência, principalmente intelectual, tinham dificuldade de acompanhar estas exigências curriculares.

Hoje as escolas terão que se adaptar, desenvolvendo as inteligências múltiplas, ou seja, habilidades diferenciadas de acordo com o potencial de cada um". Ele acrescenta ainda que isso talvez seja o desafio maior que os professores atualmente estão enfrentando para sair da padronização do ensino, criando uma educação que possa valorizar as potencialidades distintas.

Conscientização - A Federação das Apaes do Estado da Bahia já desenvolve um trabalho no sentido de conscientizar, capacitando e treinando professores de escolas regulares públicas e privadas para o atendimento aos portadores de deficiência mental. A Apae de Salvador é um exemplo disso, atuando em dez escolas.

Para Itana Sena Lima, coordenadora do Programa de Inclusão Escolar, "o programa é mais um instrumento para auxiliar os professores na inclusão de pessoas com necessidades especiais na escola comum, como previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB".

Por meio das palestras, os professores são orientados a compreender a deficiência com o objetivo de evitar a discriminação e o preconceito cometido contra às pessoas com necessidades especiais. "O trabalho é desenvolvido, preliminarmente, com o levantamento dos alunos que já estavam matriculados nas escolas regulares. Depois, agendamos visitas para coletar dados sobre o aprendizado destes estudantes especiais e sobre as necessidades referentes às práticas dos professores, para logo em seguida desenvolvermos palestras com os docentes", descreve.

A inclusão das pessoas com necessidades especiais nas escolas é defendida por educadores como de extrema importância para a socialização destes jovens. Até porque, as escolas especiais só conseguem atender 2% dos deficientes no Brasil, segundo dados da Federação Nacional das Apaes.


O vídeo a seguir, apesar de retratar o esforço e capacidade dos portadores de Síndrome de Down no esporte, serve para mostrar que na educação, assim como em vários outros segmentos, a única coisa que diferencia uma pessoa dita "normal" do portador de defiência mental é o preconceito. Veja e confira.

*Acompanhe, também, no blog de Paloma Nogueira, a entrevista com a professora universitária e escritora,Ivanê Dantas, que vem desenvolvendo projetos de pesquisa direcionado à inclusão das crianças com deficiência visual nas escolas

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

ESPECIAL| Redesenhando a vida através das letras

Nada mais mágico e encantador que o desvendar das letras, do mundo de possibilidades que elas podem proporcionar. Maria de Lourdes dos Santos de Jesus, 68 anos, sabe como poucos esta importância. Há três anos matriculada no Colégio Antonio Vieira, no programa Educação para Jovens e Adultos, Dona Lourdes, como é conhecida, vem com muita coragem e persistência lutando para descobrir o significado das palavras.

O desafio é muito grande, mas a estudante continua firme. No início, os obstáculos pareceram intransponível; os olhos não ajudavam, o estado de saúde também não. Mas a força de vontade está fazendo com que ela siga em frente. “Quando entrei aqui não sabia escrever e nem ler. Quando me chamavam para assinar o meu nome na ficha do médico era o maior constrangimento”, diz Dona Lourdes, com um olhar triste, como se relembrasse da situação, que logo mudou. “Agora não, eu sei escrever o meu nome. Quando me chamam para assinar estou sempre pronta”, enfatiza.

Dona Lourdes não pôde estudar na infância e nem na adolescência, porque teve que trabalhar muito cedo para ajudar a família e, logo depois, para cuidar dos filhos, contudo nunca esqueceu da importância do estudo. Não é à toa que, aos 68 anos, com pressão e colesterol altos, mas, acima de tudo, com um sorriso largo e contagiante, ela enfrenta a noite e o caminho tortuoso para chegar à escola. Moradora do bairro de Engelho da Federação, pega dois ônibus para chegar ao bairro Fazenda Garcia, onde fica localizado o Colégio Antonio Vieira, e mais dois para voltar para casa, por volta das 11h da noite.

O esforço para alguns alunos em decodificar as letras é tão grande que alguns precisam da ajuda dos colegas numa luta diária para realizar os seus sonhos. A conquista é única para todos: aprender o significado das letras e, consecutivamente, do mundo. Num pedaço de papel aparentemente inofensivo se esconde para muitos um emaranhado de letras, que a primeiro instante parece um obstáculo difícil de ser transpassado. Mas aos poucos as primeiras letras A, B, C mostram-se um delicioso caminho de vitórias. O olhar mágico desvenda o doce significado das letras e a realidade antes desconhecida pela ausência dos significados se torna familiar.

Esta realidade de exclusão educacional e falta de oportunidade na infância e na adolescência não está somente restrita a Dona Lourdes. O programa desenvolvido pelo Colégio Antonio Vieira, há 35 anos, atende em média cerca de mil alunos, de idade entre 17 a 68 anos, das classes populares do Salvador, que não tiveram a oportunidade de estudar no período certo, pois a maioria teve que trabalhar. Apesar disso os alunos correm atrás para recuperar o tempo perdido e para também conquistar novos sonhos e amigos.

Um exemplo de superação é Jurandy América Ferraz dos Santos, 66 anos, que mora no bairro da Fazenda Garcia e recebe uma pensão do falecido marido. A pensionista menciona que a escola é mais que um espaço de educação, pois ali consegue fazer várias amizades e amenizar a depressão: “Com a morte do meu marido acabei ficando sozinha em casa. Por isso decidir voltar à escola. Aqui tenho vários amigos e não me sinto mais só”. O maior desejo de Jurandy é continuar em frente com os estudos: “O meu maior sonho é seguir em frente com o meu desenvolvimento escolar, passando de ano”.

Já Celina Alves dos Santos, 58 anos, ressalta: “Quando eu era pequena os meus pais não tiveram condições de bancar os meus estudos, por isso comecei a trabalhar com 11 anos e tive o meu primeiro filho com 15 anos”. Por um instante Celina deixa aparecer através da expressão facial que caminha pelas lembranças do passado, voltando ao presente ao pegar lápis da carteira e dando um suspiro. O maior sonho de Celina é ler e escrever. Em um determinado momento da entrevista, Cecília entusiasmada, comenta: “Adoro ver pessoas que escrevem rápido e um dia quero escrever assim”.

Na mesma sala de Celina e de Jurandy estuda Simone Souza Pereira, 22 anos, que desde 12 anos não estudava porque gostava mais de sair com as amigas para as festas do que ir para escola, menciona a importância de ter pessoas mais experientes como as colegas na sua sala. “Eu vejo que elas são interessadas no estudo, nunca faltam. Além disso, elas me mostraram que a vida pode ser diferente, pois elas estão correndo atrás. Eu antigamente achava que se estivesse no lugar delas não estudaria, porque ninguém contrata pessoas que não sejam bonitas e jovens”, comenta com a cabeça baixa.


Valorização do ser humano

As aulas decorrem entorno do desenvolvimento social e das relações inter-pessoais. Os alunos, independente da sua idade ou classe social, são tratados como seres humanos, na verdade não são somente alunos, mas, sim, Marias, Josés, Pedros, Joanas, Lourdes. Os professores não são os detentores do saber, mas, sim, facilitadores do aprendizado, porque na sala de aula o conhecimento é construído em conjunto, comenta com muita satisfação a coordenadora do programa, Marlene de Souza e Silva.

A professora de alfabetização Mônica Sá Barreto, graduada em Serviço Social, pela Universidade Católica do Salvador, e Normal Superior, pelas Faculdades Jorge Amado, vem desenvolvendo, ao longo de sua carreira, trabalhos voltados para esta inclusão social. E a alfabetização é justamente um meio que vislumbrou para atingir o seu objetivo: educar. A alfabetizadora salienta que a maioria dos alunos são das camadas populares e trabalhadores domésticos, que trabalham e moram no entorno, e de pessoas que vêm de outros bairros.
A educadora Mônica compõe uma equipe com cerca de 40 professores, que se relacionam com os alunos de forma carinhosa e afetiva. Esta por sinal é uma marca do método educacional adotado pelo programa. Vendo nesta metodologia uma forma de compreender o universo destas pessoas que trabalham no diurno e estudam à noite.

Além disso, a educadora ressalta que o Colégio Antonio Vieira importa-se com todos os detalhes, desde transporte dos alunos ou material que eles vão utilizar: “O Colégio se preocupa com todo o processo, desde transporte, quando percebemos que os alunos não têm as mínimas condições, até o material didático que é produzido na sala de aula, pois não dispomos de livros”.

Logo na entrada da sala dos professores, e em quase todo o Colégio, uma imagem de Nossa Senhora da Educação protege os alunos. Na mesma sala, o entra e sai de alunos é constante, pois muitos procuram os professores para conversar sobre os mais diversos assuntos. E os professores sempre estão dispostos a atendê-los.

A coordenadora do programa salienta que a escola tem que se adaptar ao processo de aprendizado dos adultos, pois a grande maioria das escolas não tem uma metodologia adequada para o desenvolvimento das potencialidades destes alunos. “Os Jesuítas foram muitos felizes em realizar uma educação para trabalhadores de baixa renda. Todos os espaços da instituição são disponibilizados. Além disso, temos como ponto principal o desenvolvimento humano”.

Nas mesmas carteiras, durante o dia, onde sentam os filhos das autoridades políticas e de artistas renomados, à noite, sentam os moradores dos bairros populares, que muitas vezes são empregadas domésticas ou porteiros dos prédios destes artistas ou políticos, sem a menor distinção.

Já a professora Mônica, enfatiza que tem o maior orgulho de seu trabalho: “Este trabalho é minha realização profissional e pessoal. Tenho muito orgulho de trabalhar com este grupo, pois é um grupo que está interessado na educação no seu sentido mais genuíno”.

(junho de 2006)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

CRISE NA EDUCAÇÃO CONTINUA...| Bahia regustra fraude na distribuição do livro didático

Uma série de reportagem de A TARDE revelam inúmeras irregularidades na distribuição de livros didáticos para escolas estaduais e municipais baianas. Na reportagem MEC abre 190 sindicâncias na fraude do livro didático, publicada hoje pelo mesmo jornal, o repórter Deodato Alcântara, denuncia que a Editora Moderna, líder na distribuição de livros para escolas públicas no país, é a principal beneficiária do sistema de fraude. O editorial de A TARDE também menciona diversas irreguladades. Confira o que diz o editorial: Fraude no livro

Mercadoria nobre, nem por isso o livro escapa a fraudes. A TARDE apurou e denunciou vultoso esquema de irregularidades na distribuição gratuita a escolas públicas municipais e estaduais, pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), de livros didáticos escolhidos por professores.

A denúncia está confirmada e adquire contornos de escândalo comparável à mistura de soda cáustica ao leite in natura. O MEC já abriu 190 sindicâncias e promete ir fundo na questão, que envolve o uso indevido de nomes de professores e funcionários de escolas e secretarias de Educação.

Formulários do Programa Nacional do Livro, gerido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), não chegam às escolas de ensinos médio e fundamental – ou, quando chegam, desaparecem.As indicações iniciais de títulos, feitas por professores, são substituídas, nos formulários e nos pedidos via internet.

O número maior de fraudes ocorre na Bahia, em escolas de Salvador e de outras cidades. Professores passam pelo dissabor de ver que os títulos escolhidos foram trocados por outros, de editora diferente, ou então seus nomes abonam várias vezes encomendas de escolas que não conhecem.

A verba total do programa é de R$ 968 milhões, dos quais uma editora, a Moderna, já faturou, este ano, R$ 211,8 milhões. A editora, que logo se defendeu em nota pública, credita as preferências dos docentes ao êxito do seu modelo de comercialização e ao preço menor dos
livros.

Serão distribuídos até o final do ano 128,5 milhões de livros aos ensinos fundamental e médio, incluindo as reposições. Ao todo, 150 mil escolas beneficiadas. A quantidade de livros e a disponibilidade de verba hão de gerar cobiça. A competição, que deveria ser saudável, restrita à qualidade didática do livro, se transforma em acirrada competição.Esta, por seu turno, vem a admitir processos fraudulentos de engenhoso mecanismo.

Como acontece amiúde em programas distribuidores de recursos, as intenções são boas, os planos bem formulados e, nesse caso, transparentes. Falta fiscalização – em certos casos, difícil e custosa –, e a corrupção está sempre atenta a pontos fracos e brechas.O governo gasta muito com a educação básica e não lhe convém minimizar um caso com mostras concretas de fraude, como este do livro didático.

CRISE NA EDUCAÇÃO| 64% dos professores baianos não tem formação superior

Após 11 anos da criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estipulava, em 10 anos, a formação superior de 100% dos dicentes no país, a Bahia registra um número vergonhoso: 64% dos professores baianos não possuem formação superior.

Novamente a Bahia se destaca de forma negativa no cenário nacional, quando se trata de educação pública. Desta vez o que nos assombra é a qualidade do ensino que é passado por professores das escolas da rede estadual e municipal de ensino. Segundo matéria de A TARDE, publicada hoje, 64% dos docentes baianos ainda não possuem formação superior, o que interfere diretamente na qualidade de ensino.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabeleceu, em 1996, que, em 10 anos, 100% dos professores tivessem formação plena, mas o que vemos atualmente no Estado, após 11 anos, é que a Lei não foi cumprida e está muito longe de ser alcançada.

Se continuamos no mesmo passo, diga-se de passagem “de forminga e sem vontade”, como na canção de Lulu Santos, a Bahia só terá os 80 mil docentes que lecionam sem possuir curso superior com formação universitária daqui há 22 anos.

Enquanto isso, quem perde com esta situação são os estudantes e a educação pública, que a cada dia fica mais sucateda. Isso já é visível a olho nu, e as estatísticas não deixam mentir. A Bahia é o estado brasileiro com o maior números de analfabetos do país. E o projeto do governo do Estado quer mudar esta realidade em 10 anos. Quase dois anos se passaram e resultados concretos ainda não foram alcançados.

Segundo o diretor do Instituto Anísio Teixeira (IAT), Penildon Silva, a meta do governo “é que até 2011 a rede estadual tenha todos os seus docentes graduados. Ainda estamos buscando parcerias com as prefeituras para ampliar a formação nas escolas municipais. O órgão, vinculado à Secretaria Estadual de Educação, é responsável pela capacitação de servidores estaduais.

A matéria de A TARDE afirma que “a formação dos professores é feita por meio de parcerias com as universidades estaduais, federais, além de algumas instituições privadas. Atualmente os cursos são presenciais, mas o IAT estuda o uso da educação à distância para a capacitação dos docentes, através do Programa Universidade Aberta, do governo federal”.

Dificuldade – A reportagem revela, ainda, que “uma das principais queixas dos professores em formação é a dificuldade de conciliar o curso universitário com a rotina desgastante da sala de aula. De acordo com Cecília Caramés, graduanda do curso de matemática da Universidade Federal da Bahia (Ufba) , “a nossa carga horária de trabalho é de 40 horas semanais, por isso sobra pouco tempo para se dedicar à faculdade. Temos que estudar nos sábados, domingos e madrugadas”.

Cecília leciona há 16 anos no Colégio Estadual Raphael Serravale e possui apenas a chamada licenciatura curta nas áreas de ciências e matemática. Criada em 1971, este tipo de graduação foi formulada para dar uma formação rápida e generalista aos professores. “A intenção era atender a crescente demanda por docentes nas escolas de ensino fundamental da rede pública. A licenciatura curta, contudo, foi extinta com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases”, revela a reportagem.

Apesar das adversidades, os docentes reconhecem a importância de uma formação universitária. Para o professor de educação física Álvaro Macedo, graduado há mais de 20 anos, uma permanente capacitação do docente deve ser também incentivada pelo governo para melhor a qualidade de educação pública. “O curso superior é só o primeiro passo”, opina.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Alunos anunciam greve de fome

Depois da desocupação da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba) por intermédio da Polícia Federal no último dia 19, os estudantes decidiram radicalizar.Pelo menos seis deles já anunciaram que vão iniciar uma greve de fome hoje, em protesto contra a forma como o reitor Naomar Almeida tem conduzido o debate em torno do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades federais – Reuni, projeto da União que a Ufba pretende aderir.

Hoje acontecerá, a partir das 9h, uma reunião de estudantes na Reitoria da Ufba para discutir novas estratégias de protesto. A deliberação para uma nova ocupação não está descartada. Na coletiva realizada ontem no auditório da Faculdade de Arquitetura, na Federação, forraram a mesa da plenária com uma toalha preta, simbolizando o estado de ânimo.

Fonte: A TARDE

terça-feira, 20 de novembro de 2007

ESPECIAL DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA| Cotistas mostram bom desempenho

No Dia Nacional da Conciência Negra, o Meu mundo em movimento publica uma reportagem analisando os cinco anos de implantação do sistema de cotas em algumas universidades públicas brasileiras. A reportagem foi publicada no caderno espacial Dia da Consciência Negra, de A TARDE. Confira!

Cinco anos se passaram desde a implantação do sistema de cotas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) - pioneira no Brasil a adotar, por medida de lei estadual, a reserva de vagas para estudantes negros e oriundos de escola pública. A medida, apesar do tempo e de diversas discussões calorosas (contra e a favor), ainda continua a gerar muita polêmica em todo o País.

Prova disso é o embate entre os que acreditam que as cotas são a melhor maneira de incluir socialmente os negros na universidade e aqueles que vêem essa ação como medida paliativa e racista, porque divide a população entre brancos e negros e não atinge o cerne da questão, que é a melhoria da educação pública.

Qual das duas partes tem razão neste debate? Os a favor ou os contra as cotas? A resposta a esta pergunta talvez esteja longe de um consenso. Mas a legalização das cotas, não. Dois projetos de lei (Lei das Cotas e Estatuto da Igualdade Racial), em tramitação atualmente no Congresso Nacional, tentam sancionar as cotas em todas as universidades públicas.

Mas os contrários a essa medida, como a antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Yvonne Maggie, são radicais ao afirmar que a reserva de vagas para negros compromete o princípio de igualdade previsto na Constituição brasileira. "O Brasil optou por um caminho de separar legalmente a população entre brancos e negros, com a discussão destes dois projetos de lei. Estes projetos, se votados e aprovados, vão mudar o Estatuto Jurídico Brasileiro. E isso é grave", responde Yvonne, apreensiva com a possibilidade.

Frei David dos Santos, diretor-executivo da ONG Educafro, refuta a opinião da professora Yvonne, dizendo que ela está equivocada. “O projeto de Cotas e o Estatuto da Igualdade “irão, sabiamente, combater a separação que já está implantada no Brasil e que gera a exclusão. Esta separação oficial começou com a definição jurídica de que negros eram escravos dos brancos e não tinham direito à cidadania“.

Segundo o ativista, a mais recente análise dos dados da Uerj, agrupando as informações destes cinco anos de cotas, revela que os alunos não-cotistas obtiveram média global de 6,37 pontos, enquanto os cotistas obtiveram média de 6,51 pontos.Estudos feitos, em 2006, pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) para avaliar o desempenho dos estudantes cotistas, em diversos cursos, também revelam que os cotistas tiveram desempenho igual ou superior aos não-cotistas em 56% dos cursos.

Nas graduações de alta concorrência, como as de comunicação social (jornalismo e produção cultural), por exemplo, 100% dos estudantes cotistas obtiveram coeficiente de rendimento entre 5,1 e 10,0 em todo ano de 2005, contra 88,9% dos não-cotistas. É o caso do estudante do 5º semestre de jornalismo, Neumar Rosário de Almeida, dono do melhor escore do curso da Faculdade de Comunicação.

No curso de medicina, o mais concorrido da universidade, 93,3% dos cotistas apresentaram coeficiente de rendimento entre 5,1 e 10,0, contra 84,6% dos não-cotistas.Antes da implantação do sistema de cotas, a média geral de participação de estudantes de escola pública na Ufba era de 39,8%. Atualmente, esse quadro aumentou para 48%, com variação a depender do curso.

"Naturalmente isso não caracteriza que os estudantes cotistas são melhores que os não-cotistas. Significa apenas que os cotistas estão fazendo um grande esforço para ter um bom desempenho na universidade, e eles estão conseguindo", destaca o pró-reitor de Ensino de Graduação da Ufba, Maerbal Marinho.

Uneb tem 6,5 alunos nas cotas

Neste ano, o sistema de cotas na Uneb completou cinco anos, com as primeiras turmas de formados. Segunda universidade no Brasil a adotar o sistema de cotas, a Universidade Estadual da Bahia (Uneb), em 2002, por meio do Conselho Universitário, determinou que 40% das vagas do vestibular fossem reservadas para estudantes negros oriundos de escolas públicas.


Apesar das duras críticas que recebeu no início, sendo acusada de criar um processo racista de seleção, a Uneb, atualmente, tem números grandiosos de inclusão: dos 16 mil estudantes da universidade, 6.500 são cotistas. Segundo o coordenador do Projeto de Acompanhamento, Manutenção e Avaliação de Ações Afirmativas (AMA) da Uneb, Manoelito Damasceno, nestes cinco anos, foi possível verificar que a avaliação de desempenho dos cotistas é positiva, porque já se identificou que não há diferença entre o desempenho acadêmico dos alunos cotistas e não-cotistas.

Quando questionado se com os bons resultados do sistema não seria a hora de acabar com a reserva de vagas, o coordenador foi enfático: “Não. Isso depende do processo e de seus resultados. Se o efeito está sendo positivo, não tem por que mudar. A medida deve ter um caráter que atenda à realidade. Quando tivermos condições sociais igualitárias, as cotas irão, naturalmente, acabar”.

Quem é negro - Uma das principais polêmicas que envolvem o sistema de cotas, nas universidades que adotam a reserva de vagas para estudantes negros, é como determinar quem é ou não negro. Esta polêmica se agravou depois do caso dos irmãos gêmeos idênticos (univitelinos) Alex e Alan Teixeira da Cunha, 18 anos, que se inscreveram pelo sistema de cotas da Universidade de Brasília (UnB), em junho de 2007.

Um dos irmãos foi aceito no sistema, o outro, não. Tempos depois, após uma grande repercussão nacional, a universidade recuou na decisão e decidiu aceitar os irmãos pelo sistema de cotas. Essa situação fez com que a UnB mudasse o processo de seleção dos cotistas. Agora, conforme o edital do vestibular 2008, os candidatos que se declararem negros ou pardos deverão ser submetidos a uma entrevista presencial com uma equipe da instituição. Antes, os estudantes precisavam apenas enviar fotografias para se candidatar às vagas reservadas a negros e índios.

PERFIS Neumar Rosário, estudante cotista com o melhor escore da Facom

Nascido no primeiro dia de março de 87, Neumar é um pisciano, mas garante que isso não é nada que vá definir sua personalidade. O pai Osmar trabalha como gari e a mãe Neusa vende frutas e doces num pequeno comércio em Pernambués, bairro onde vivem. “Eu moro com meus pais, mas à noite fico na casa de minha vó. Eu não gosto da idéia dela dormir sozinha”.

Além da companhia, Neumar ajuda também nas contas da casa. Das duas casas.Testemunha de Jeová, o aspirante a jornalista começou a trabalhar como menor aprendiz no Centro de Recursos Ambientais (CRA) quando estava na 8ª série do ensino fundamental e está lá até hoje. Foi a isenção da taxa do vestibular da Ufba que o motivou a fazer as provas. “Sem isso eu nem teria me inscrito”.

Ele escolheu o curso de jornalismo por causa da afinidade com as matérias humanas.Quando perguntado sobre o sistema de cotas, pelo qual ingressou na universiade, Neumar hesita. Ele balança seu tênis all-star bege, ajeita a manga da camisa de algodão com listras azuis, procura as palavras com um olhar distante. “Acho que as cotas não são a melhor solução para o problema do acesso à universidade, mas talvez funcionem como um início de um processo que tente equacionar melhor a educação no nosso país”, diz.

Neumar tem as melhores notas de sua turma, no curso de jornalismo, incluindo alunos cotistas e não-cotistas. Apesar de ter tido média dez numa disciplina considerada muito difícil, ele garante que não estuda mais que os outros, mesmo porque “tempo mesmo só à noite, depois do trabalho, e aos finais de semana”.

Dedicação maior, não pode dar, porque precisa trabalhar. Sem o salário que recebe no estágio, Neumar afirma que não estaria estudando hoje na Ufba, mesmo sem ter de pagar mensalidade. “Eu não me vejo sem trabalhar. Eu não teria dinheiro para pegar um ônibus ou pagar uma xerox da faculdade”.


ENTREVISTA "A medida não surgiu do nada"


Primeira mulher negra a assumir o cargo de reitora em uma universidade pública no Brasil, Ivete Sacramento foi decisiva para a adoção das cotas na Bahia. Longe da cadeira de reitora, mas não da universidade, continua a lutar pelo direito de acesso. Em entrevista ao A TARDE, ela revelou o processo para implantação das cotas na Uneb.

A TARDE - Como se deu a implantação das cotas na Bahia?

Ivete Sacramento - Em 2001, a Câmara dos Vereadores, por meio de uma indicação do vereador Valdenor Cardoso, hoje presidente da câmara, enviou uma proposta, aprovada em plenário, à Secretária Estadual da Educação, para que a Universidade Estadual da Bahia implantasse cotas para negros.

AT - Quais foram as primeiras medidas para adoção das cotas?

Ivete Sacramento - A primeira medida que tomamos foi apoiar pré-vestibulares, na época só tinha o Steve Biko, que tivessem recorte racial. De que forma nós apoiamos essas iniciativas? Com a isenção da taxa do vestibular. A segunda medida foi estudar o vestibular em si para ver se na elaboração das provas nós estávamos beneficiando um ou outro segmento. Então verificamos, e isso não esta restrito somente ao vestibular da Uneb, que o vestibular era elaborado pensando em quem tivesse cursado pré-vestibular. Em tese, o vestibular era elaborado e privilegiava uma determinada classe social. Então precisamos ter um nível democrático na elaboração do vestibular, e isso significava se basear a elaboração do vestibular nas diretrizes de educação média do Estado. E foi o que fizemos.

AT - Isso significava uma prova diferenciada para os estudantes cotistas?

Ivete Sacramento - É um equívoco dizer que os candidatos cotistas seriam avaliados por meio de uma prova diferenciada. A prova é a mesma. É o mesmo sistema de avaliação. O que difere o cotista do não-cotista é que ele faz uma opção. E ao fazer a opção para ser cotista, ele tem que está enquadrado em determinados critérios: ser estudante da rede pública e se declarar negro.

AT - Mas a noção de ação afirmativa estava clara?

Ivete Sacramento - Naquele momento a noção de ação afirmativa e afrodescendência não estavam em questão ainda no Brasil. Para se ter uma idéia, da abolição da escravatura a adoção das cotas, nenhuma ação afirmativa concreta tinha sido realizada para melhorar a qualidade de vida do povo negro do Brasil. Então, primeira contribuição que a adoção das cotas na Bahia favoreceu, foi a discussão de quem é negro no Brasil.

AT - Muitas pessoas desconhecem a história por trás das ações afirmativas. Como a senhora avalia isso?

Ivete Sacramento - O grande equívoco é pensar que esta medida surgiu do nada. Não. Esta medida é fruto do trabalho, especialmente do Movimento Negro Unificado, que vem discutindo, desde 1976, formas de se ampliar à participação do negro na economia e no desenvolvimento deste País. E a criação das cotas é uma destas medidas.

Colaborou o repórter MATHEUS MAGENTA

sábado, 17 de novembro de 2007

Prova do vestibular da Ufba e UFRB será aplicada amanhã

O vestibular 2008 da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) acontece amanhã (18) e segunda-feira (19). São 4.264 vagas na Ufba e 1.426 vagas na UFRB, que terá 13 novos cursos [a maioria noturnos]. As federais baianas receberam 39.197 inscrições, uma queda de quase 8% em relação ao vestibular 2007, quando 42.719 estudantes se candidataram.

Neste domingo, os candidatos respondem 10 questões objetivas de português e 20 objetivas de ciências naturais. Na segunda-feira é a vez de matemática [10 questões], ciências humanas [18] e língua estrangeira [7]. O cartão informativo [com local das provas] está disponível na
internet.

A prova começa às 8h e tem cinco horas de duração. A saída das salas só será permitida a partir das 10h. Para levar o segundo caderno de respostas, só a partir das 11h30.O serviço de seleção recomenda que os candidatos cheguem aos locais de prova com 30 minutos de antecedência. Os portões de acesso aos estabelecimentos serão abertos às 7h30 e fechados às 7h50. O restultado deve sair até 10/12. As provas da segunda fase, de redação e habilidade específica, serão realizadas entre os dias 16 a 21/12.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Livro analisa a escola brasileira

Publicação voltada para a análise da escola será lançado no próximo dia 13, na Assembléia Legislativa da Bahia. O livro é de autoria do professor da Uneb Antônio Amorim.

Compreender as diversas dimensões da escola brasileira, analisando sua complexidade, pluralidade e as diferentes missões para a escola e o futuro educacional do País. Estas são algumas das abordagens propostas pelo professor Antônio Amorim, em seu mais novo livro Escola: uma instituição social complexa e plural.

O lançamento nacional da obra está previsto para o dia 13, às 12h30, no salão de entrada da Assembléia Legislativa, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador. Para autor, em uma entrevista publicada no site da Universidade Estadual da Bahia, “o livro traz questões sobre o que é a cultura popular e escolar e como as visões da escola se sobrepõem à cultura adquirida pelo estudante durante sua trajetória de vida”.


Amorim destaca, ainda, que o livro trata também de assuntos do cotidiano escolar, qualidade de ensino, visão das famílias sobre as instituições, entre outros. A obra, publicada pela editora Viena, já está em todas as livrarias do país.